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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

28/03/2022 08:00

Muitos definem como sendo um regime onde o poder está concentrado no governo. Regime não democrático onde a participação popular é escassa ou até mesmo nula.

Por momento pensei que a ditadura tinha terminado no nosso país, com o golpe de Estado do 25 de abril de 1974. No entanto, estava enganada. Por onde passo, vejo nitidamente uma ditadura ainda existente, uma censura, uma falta de eleições transparentes, de liberdade de expressão e individual e, não esquecer, um intenso controle na vida do cidadão.

Nos locais de trabalho, é notório como a entidade patronal ainda possui um poder "soberano" sobre o funcionário. O típico slogan "Não te pago para pensar, mas sim para trabalhar!" ainda se faz sentir, por mais estranho que possa parecer. E, infelizmente, pouco ou nada se pode fazer, com receio de dar um tiro no próprio pé!

Em pleno século XXI, ainda se verifica esta sombrosa ditadura, sem espaço sequer para o Dia do Trabalhador. Onde só existe deveres e não direitos, imposição de trabalho e mais trabalho, sem opção de escolha! Excesso de tarefas, horas extraordinárias sem qualquer compensação, a quebra na autonomia dos funcionários, a discrepância no volume ou no tipo de tarefas entre os mesmos, o não poder opinar, questionar ou argumentar com receio das possíveis represálias que daí possam advir, ou, então, da fria resposta "Fica registado!".

Este tipo de situações entra, claramente, no campo da liberdade individual e de expressão. Para mim, são práticas ditatoriais - que se praticam nos locais de trabalho, mas que ninguém faz nada e fica tudo como está - mas que devem ser denunciadas! Se esta moda se pega, qualquer dia nos transformam em máquinas que trabalham, trabalham e trabalham, sem qualquer pensamento ou ideologia, e, efetivamente, pagos para trabalhar, nada mais!

Nas últimas cinco décadas que separam o glorioso 25 de abril de 1974 e a nossa atualidade, o mundo do emprego mudou, acompanhando a evolução que Portugal sofreu na transição da ditadura para a democracia. É certo. Antes, nem era possível comentar este tipo de situações, com receio que a PIDE ouvisse e denunciasse. E a verdade é que mudamos muitos desde então. E é certo que nem todos os locais de emprego vivem uma ditadura, mas sim uma democracia, que pensam não apenas na chefia com também no funcionário.

Contudo, outros locais vivem uma censura, onde não existe flexibilidade e sensibilidade. Ainda existem pessoas fechadas no "convés" do "Titanic", à espera de terem a mesma possibilidade de se salvar! E esta situação verifica-se na restauração, no comércio, e até nas médias e grandes empresas!

As empresas podem ter regras, princípios e valores próprios. Contudo, não nos esquecemos de um pormenor importante: da JUSTIÇA! Não podem julgar-se um estado soberano que impõe leis e regras internas aos seus trabalhadores que chocam com a liberdade individual de cada um, direito esse que está bem explícito na constituição de regime democrático!

Termino com uma citação de Albert Einstein: "Respeito cego pela autoridade é o maior inimigo da verdade! (…) O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os olham e não fazem nada!"

O futuro é hoje e, se não corrermos, terá sido ontem!

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