Associar os pessimistas a pessoas que se importam e nunca desistem de manter o seu foco, acreditando que é possível a mudança, em contraste com a tradicional ideia de pessoa que desiste por não ter esperança, é uma visão interessante. Ser pessimista surge associado a inconformismo, foco e compromisso.
Pessimista ou otimista, seja qual for a aceção que queiramos atribuir a estas palavras, o que sei é que, ao longo da nossa existência, formulamos uma sucessão infinita e diária de "sins" ou de "nãos", com consequências diretas no nosso dia a dia. Sistematicamente fazemos escolhas que modelam a vida que escolhemos e que se repercutem na realidade que vivemos. Fico calada ou dou a minha opinião? Denuncio a mentira ou engulo a verdade? Escolho ver ou faço de conta que não vejo? Proponho algo diferente ou digo que está tudo ótimo? Vou à luta pelos valores em que acredito ou fico no meu canto à espera de apanhar uma onda vencedora qualquer? Escolhas, escolhas… E o mundo realmente não está fácil para quem defende a democracia. Para a mantermos, são-nos exigidos compromissos diários com o respeito, a liberdade, a participação, a transparência, a coerência, a solidariedade. Muitas vezes ouvimos dizer que "queremos sempre o melhor". Mas para quem? A custo de quê e de quem? As respostas ajudam a perceber o foco da ação política.
Vejamos o caso do Governo Regional da Madeira. Há mais de 45 anos no poder, pensa e usa a autonomia como arma de ataque ao continente português, culpando-o da sua própria ineficiência e más escolhas. O País tem sido usado como o inimigo público da RAM. O GR conseguiu o feito de colocar a Madeira como a região mais pobre de todo o Portugal, obtendo igualmente esse lugar no ranking da que tem a maior taxa de desemprego. Podendo investir parte dos milhões de euros do PRR no desenvolvimento da atividade económica e da população, escolheu usar o montante que poderia dedicar à componente do Mar na ampliação da Pontinha e não no desenvolvimento desse setor que tanto necessita e que tem potencial. Quando se soube destas escolhas, o que disseram? Que a culpa é de Lisboa! Na realidade, dá muito mais jeito manipular pessoas que precisam de estender a mão para receber um qualquer frango congelado, do que investir no desenvolvimento económico e social da RAM.
PSD e CDS insultam a inteligência da população, recorrendo constantemente a propaganda manipuladora e cara para mascarar as suas más opções. Usam Casas do Povo e outras instituições como braços armados partidários com fins eleitoralistas, afirmando a opacidade das contas como pequenos pormenores sem importância na utilização de dinheiros públicos, sem criarem estratégias eficazes que ajudem a solucionar os reais problemas da Região.
"(…) os que mandam não só não se detêm diante do que nós chamamos absurdos, como se servem deles para entorpecer as consciências e aniquilar a razão (…)" escreveu José Saramago. Por mim, continuo a ser pessimista, na aceção que ele lhe deu, ou inconformada, como Violante concluiu no capítulo sobre o pessimismo.
* de memórias nos fazemos, Edições Esgotadas