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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

6/10/2024 03:30

Durante o período em que o Bispo Dom Francisco Santana esteve como Bispo do Funchal, eu estava em Roma como Reitor do Pontifício Colégio Português.

Como em 1982 ele estivesse muito doente com cancro, fui chamado à Secretaria de Estado do Papa dizendo-me que seria Bispo Auxiliar do Funchal, devido à situação grave de saúde do Bispo.

Entretanto morre o Bispo a 5 do mês de março de 1982.

Fui chamado ao Vaticano e disseram que fariam um mês de luto e só depois seria nomeado Bispo residencial do Funchal. Dom Francisco tinha sido um padre bem preparado em Lisboa, tendo nascido a 11 de abril de 1924, sendo filho de António Francisco Santana e de Ana de Jesus Santana.

Fez os seus estudos nos Seminários, sendo ordenado sacerdote pelo Cardeal Cerejeira de Lisboa em 29 de junho de 1948.

Em 1960 foi nomeado pela Santa Sé diretor nacional do Apostolado Mar. Trabalhou com jovens no escutismo, e nos Cursos de Cristandade.

Foi o 30.º Bispo do Funchal. Passou horas amargas após o 25 de abril, mas encontrou um amigo seguro na pessoa do Doutor Alberto João Jardim.

Quando vinha ao Funchal, falava com o Doutor Agostinho Gomes, que não discordava do Bispo, mas dizia-lhe a sua opinião.

Quando entrou no Seminário Menor, na Encarnação, que tinha poucos alunos, fez uma cruz no quadro e fundou uma Escola Apostólica que não deu resultado.

Os tempos eram maus, alguns sacerdotes deixaram o sacerdócio e tomaram esposas, sendo o grupo do Pombal o mais ativo, com três padres, o que muito atormentou o Padre Abel, tendo o Padre João da Cruz, já professor do Liceu, ocupado o Seminário da Encarnação, então vazio, com outros alunos.

O bispo seguiu para lá, tendo Dom Francisco passado a noite aprisionado e, só de manhã, libertado pela polícia.

Muito deu que falar os Crismas em Machico que não se puderam realizar.

Como estava em Roma, estas notícias chegavam muito tarde, onde a situação não era brilhante e o Papa São Paulo VI falava dos fumos de satanás.

O Bispo Francisco descobriu um lugar pacífico na Quinta de São Jorge, para onde convidava também alguns dos jovens que no Funchal enchiam a sua sala de trabalho, tomavam café e doces.

Quando era Bispo Diocesano encontrei um armário cheio de cassetes com os sermões que dizia Sé, para defender-se, caso fosse atacado.

Muito original foi a procissão do Corpo de Deus nos Barreiros, tendo depois da Missa o Bispo tomado o Santíssimo Sacramento nas mãos, tendo uma multidão de 30.000 pessoas sem vestes especiais vindo até à Catedral.

Foi um sinal forte para os políticos e padres afastados da Igreja.

Nem todos concordaram e, no ano seguinte, os Irmãos do Santíssimo e as crianças vieram com as suas vestes brancas, o quer era cansativo para elas.

Quando era Bispo Diocesano, ainda celebrei dois ou três anos nos Barreiros, mas por causa das crianças continuamos na Praça do Colégio e procissão na cidade.

Como Dom Francisco tinha a sua mãe sozinha, passava muito tempo com ela, tendo um senhor amigo que o ajudava.

Quando adoeceu com um cancro foi tratar-se a Londres, mas não teve melhoras.

Na véspera da sua morte disse ao Vigário-Geral que o levasse para a Quinta de São Jorge, tendo falado com o seu médico este não concordou, e morreu no dia seguinte a 5 do mês de março.

Após a sua morte este Senhor amigo do Bispo e da mãe, veio comunicar-me que ela não podia viver sem a ajuda que recebia do filho.

Falei com o Vigário-Geral e foi concedida a mesma ajuda que recebia do filho Bispo.

Para presidir ao seu funeral, o Senhor Dom Maurílio veio do continente para ter um bispo na catedral do Funchal.

A Assembleia Regional do Funchal homenageou-o a 21 de Janeiro de 1984 com a Medalha de Mérito da Região, dando o nome à Praça com um busto junto ao Hospital Central da Cruz de Carvalho.

O Senhor Doutor Alberto João Jardim disse nessa ocasião que, o Bispo Francisco Santana disse no seu tempo a palavra de verdade e de justiça social e foi o homem moderno, o Homem do seu tempo, que muito contribuiu para a democracia.

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