Os ícones são os retratos mais semelhantes ao original, mas sobretudo os que a espiritualidade cristã faz referência, para que o rosto imaculado da Virgem Maria "se refletisse continuamente no espelho da alma".
O título mais elevado e decisivo de Maria é precisamente o de "Mãe de Deus" segundo a expressão do Concílio de Éfeso. Ela permanece sempre criatura, ainda que perfeita, é o "o templo de Deus, não o Deus do templo", como escreveu Santo Ambrósio. Tudo o que se refere a Maria veio da igreja oriental que estava mais próximo dos acontecimentos na Terra Santa, da vida de Jesus e de Sua Mãe.
A doutrina da Dormição de Maria do Oriente ou, da Assunção do Ocidente, foi professada desde os primórdios da Igreja, de forma que é a festa mariana mais antiga
e a mais universal. Os Padres da Igreja oriental usavam na liturgia as expressões poéticas mais belas para a Mãe de Jesus, tanto na liturgia, como na devoção popular
e culta, que entreviu nos rostos femininos do Antigo Testamento os traços dos "antepassados" da Mãe do Senhor. Não eram clarões diretos, nem semelhanças imediatas, mas os olhos espirituais dos cristãos que desenhavam e redesenhavam neles o modelo mariano. As tradições hebraicas do Antigo e Novo Testamento estão em relação com a Palavra de Cristo que está em plena continuidade com a Palavra de Deus. Além dos cristãos, uma mística muçulmana do século VIII, recolhendo a tradição do Corão sobre Maria, escreve:" Quando no dia da ressurreição formos chamados, a primeira a avançar da fila das criaturas humanas será Maria, a Mãe de Jesus. A paz esteja com ela".
Os Padres da Igreja e doutores Orientais usam expressões de grande beleza e ternura para a Theotókos, a Mãe de Deus: Cirilo de Alexandria (444) escreve: Lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da ortodoxia, templo indissolúvel.
Antípatro de Bostra (457) Maria reponde ao anjo: quem és tu que entraste, sem ser convidado, em nossa casa? Isabel, mãe de João Batista, o ouvido da mãe, foi de facto, o ouvido do feto. O ventre de Maria é um templo.
Esíquio de Jerusalém (451) na homilia sobre a Santa Mãe de Deus: Trono de Deus, Templo superior ao Céu, Jardim não semeado, vinha de belos cachos, rola pura, pomba imaculada, Nuvem cheia de chuva, Arca superior à de Noé, Vara de Jessé, Sarça ardente, Porta fechada, Fonte sigilada. Arca da tua santificação. Paraíso da imortalidade, Plantação suprema do Altíssimo e do Espírito Santo.
Proclo de Constantinopla, Terra não semeada que gerou um fruto celeste, invisível rota de nave que percorre os mares, reparou a árvore da desobediência. Virgem cordeirinha, Oficina virginal, Planície não cultivada onde germina o pão não semeado. Não é possível enumerar todos, são como as estrelas do Céu...
Já em nossos tempos, Santa Teresa do Menino Jesus escreveu: "Como gostaria de ter sido sacerdote para pregar sobre a Virgem Maria! Parece que me teria bastado uma única vez, para fazer compreender o meu pensamento acerca dela... Seria preciso dizer que ela vivia da fé como nós".
São três os textos apócrifos mais antigos que narram o fim terreno da Virgem Maria:
O texto da Etiópia" Livro do Repouso", escrito em grego, o "Transitus Mariae" escrito em latim. Um segundo deste texto tem uma descrição bem cuidada do sepulcro em Jerusalém, onde Maria teria sido elevada ao Céu. Esta basílica subterrânea do tempo dos cruzados está junto do Getsémani, é muito visitada pelos peregrinos. Hoje, atrás de um altar, onde os ortodoxos celebram missa, está um banco elevado onde foi deposta a Bem Aventurada Virgem Maria. Os apócrifos da Assunção na Idade Média foram organizados na "Legenda Áurea". A partir do século VII no Oriente e do século XI no Ocidente, aparece a representação de Maria estendida sobre o seu leito de morte, rodeada dos Doze apóstolos, e, por detrás, Cristo recebe a alma de sua Mãe nos braços, simbolizada numa menina. Os ícones orientais apresentam desta forma a Dormição de Maria a Theotókos.
Para além do Antigo Testamento a Mariologia dirige-se à cristologia e à eclesiologia.
Entre as múltiplas poesias e versos sobre Maria, escolhemos para findar este tema a do Servita Padre Turoldo: Como podemos cantar-te, ó Mãe.
sem perturbar a tua santidade,
em ofender o teu silêncio?
És a nossa natureza inocente, Virgem, mãe da graça,
a nossa voz antes da culpa, estende ainda o teu véu
o único exemplo digno dÉle aos campos devastados, e volta...