Confuso? Um pouco. Impossível? Não, de todo! Inclusive, já existem várias pessoas que colocaram uma pausa na sua vida, para poderem ressuscitar num futuro. Uma delas, é uma jovem de 14 anos, natural do Reino Unido e foi-lhe diagnosticado um cancro terminal em Agosto de 2015. A jovem sabia que ia morrer mas não aceitava esse facto. Então, antes de falecer, enviou uma carta ao tribunal informando que dava autorização à sua mãe para cuidar do seu corpo e transferi-lo para uma instituição de criopreservação humana. Na carta, a jovem declarou que pretendia ser acordada e curada num futuro, mesmo que o procedimento levasse centenas de anos.
Posso também chamar à colação, o caso da menina tailandesa, que foi criopreservada quando estava prestes a fazer três anos. Matheryn Naovaratpong tinha dois anos e desenvolveu um tipo raro de cancro no cérebro. Os pais da menina são engenheiros biomédicos, acreditam na ciência e conhecem o procedimento. Por este motivo, optaram, sem hesitar, por criopreservar a filha porque acreditam que é a melhor forma de oferecer-lhe uma nova oportunidade de vida no futuro. No momento da morte da menina, foram removidos todos os fluídos corporais e substituídos por um líquido anticongelante, que permite que o corpo possa ser congelado sem danificar os tecidos. Depois, o cérebro foi removido e preservado numa temperatura de -196ºC.
A criopreservação de corpos humanos é definida como uma forma de preservar a vida, colocando uma pausa no processo da morte, utilizando temperaturas negativas, com a intenção de restaurar a boa saúde, com auxilio da tecnológica médica no futuro. As instituições que se dedicam a esta prática acreditam que são uma espécie de ambulância para o futuro.
O processo de criopreservação divide-se em oito passos:
Primeiro: Para que seja garantida a qualidade de um processo de criopreservação é aconselhável que a equipa da instituição esteja junto da pessoa, até uma semana de antecedência da sua morte, para começar no procedimento, quase de imediatamente, após a paragem cardíaca;
Segundo: O momento da declaração de óbito. Assim que a pessoa possa ser considerada, para todos os efeitos legais, como morta, começa o processo de criopreservação propriamente dito; pois, embora a pessoa esteja "legalmente morta", em bom rigor, ainda está no início do processo de morte, com células e órgãos ainda viáveis.
Terceiro: Estabilização. A circulação sanguínea e a respiração são restauradas artificialmente, de forma temporária, para proteger o cérebro. Desta forma, os medicamentos poder ser administrados por via intravenosa. Depois, a pessoa passa por um banho gelado e o seu sangue é substituído por uma solução de preservação de órgãos.
Quarto: Dentro de 24h o paciente é levado para a instituição onde o corpo irá ficar depositado.
Quinto: Perfusão. Os crioprotetores são introduzidos de forma lenta na corrente sanguínea para reduzir e prevenir o congelamento. Neste momento, o paciente está pronto para a criopreservação.
Sexto: Resfriamento profundo. O paciente é colocado numa temperatura a -196ºC e, desta forma, teoricamente, está protegido da deterioração por milhares de anos. Neste passo, o processo de morte está efetivamente interrompido.
Sétimo: Cuidado a longo prazo. O paciente é armazenado numa espécie de cilindro de metal, isolado a vaco, a temperaturas abaixo de zero, utilizando nitrogénio líquido. Este líquido é reabastecido e os cilindros não precisam de eletricidade. O paciente irá permanecer nestes cuidados até que a sua recuperação seja possível.
Oitavo: Renascimento. Atualmente, não é possível ressuscitar nenhum paciente criopreservado. A esperança prende-se com o avanço da nanotecnologia e outras tecnologias emergentes.
Acredito que, neste momento, o leitor levantou várias questões. No próximo artigo, iremos discutir as questões éticas que estão relacionadas com este tema.