Na verdade, se tivermos em consideração a esperança média de vida, o certo é que nos trinta tardios se encontra a idade média, os quarenta já a ultrapassaram.
Os setenta são, pois, o limiar da esperança média de vida e daí para a frente, o que Deus quiser.
Para morrer basta estar vivo, já se sabe, mas tomando como boa a lei da vida os quarentões estão na fase de começar a aproveitar o que ela tem para dar, é aquela década em que o corpo ainda responde e a mente ainda alerta. A década de fazer o que ainda não foi feito, antes que deixe de ser possível e do sonho se passe à frustração. Naturalmente cumprir tudo o que for exequível, dentro da moldura do possível e concretizável ou, doutra forma, entrar-se-á na conhecida "crise da meia idade", que muitas vezes não passa dum recuo a uma adolescência fora de tempo.
Mas, esta também é a década da renovação. Quantas vezes, por semana, abrimos os jornais ou as páginas das redes sociais e deparamo-nos com participações de falecimentos de pessoas que, na nossa mente, eram jovens, com a vida pela frente, partes da nossa história, da história dos nossos espaços, da nossa existência? A substituição do falecimento dos avós, pelo falecimento dos pais. As festas de casamento, por festas de batizado, os batizandos a se formar, a se casar, o ciclo a se fechar.
Somos obrigados a assumir que também fazemos parte desse ciclo e que os nossos também e que o ciclo, um dia, se fechará perante nossos olhos, mais tarde ou mais cedo.
Com o avançar da idade percebemos e assumimos: - "Isto já não será para mim, será para os meus filhos". É verdade, daqui a vinte anos já passou, já foi, é tarde demais.
É tarde demais para dizer adeus, perdoo-te, desculpo-te, vai em paz, porque o que passou, passou e eu também passei. Também fui, também irei, também fecharei o ciclo.
Também me preparo, da maneira que for possível, se for possível, para um luto que chegará, hoje, amanhã, depois, mas que chegará, faço um estágio de luto convencendo-me de que serei forte, capaz, serena, tolerante para comigo mesma, um estágio do luto, que nunca se saberá eficaz, até o momento da prova final.