Atualmente, não é recomendado o convívio no exterior da Igreja, mas confesso que recordo com muita nostalgia a confraternização no adro. Uma correria até às famosas "rabaquinhas" onde não faltavam as sandes de Carne Vinha d´Alhos, o cacau quente, as fatias de bolo caseiro, as broas, a poncha, o licor e até mesmo o vinho! Porém, não pensem que era só "comer e beber"! Nem pensar! Seguia-se toda uma animação com vários instrumentos musicais, cânticos tradicionais, danças e lá íamos nós em procissão, pelas ruas, até que depois, cada um dirigia-se para os seus trabalhos com o coração quente e com um boost de energia para o resto do dia.
Nesta época, percorremos toda a Ilha para vermos os presépios delicadamente construídos pelas pessoas de cada sítio, um mais bonito que o outro, autênticas obras de arte, que representam muito bem o nascimento de Jesus. Quase que os nossos olhos não chegam para observar tanto detalhe. É de louvar a dedicação das pessoas que não permitem que a tradição acabe.
Obviamente que não nos podemos esquecer de outras tradições bem enraizadas como a matança do porco, o sangue cozido e os torresmos. A magnífica noite do mercado, com ruas repletas de fruta e verdura fresca; a bela tangerina, saborosa e cheirosa; os cânticos de natal, na praça do peixe; a poncha e a sandes de carne vinha d’alhos no exterior; a voltinha pelo parque de diversões e o bailarico que não pode faltar.
Esta época é mágica! As famílias reúnem-se para a ceia de Natal, as mesas ficam cheias, repletas de amor, de iguarias e de doces. A tradição divide-se entre o bacalhau e o peru mas o que não pode mesmo faltar são as gargalhadas. Antes da meia noite, saímos de casa, quase a rebolar, de tão empanturrados, para a Missa do Galo! Depois de adorarmos o Menino Jesus, regressamos a casa e é o momento de abrirmos as prendas. O Pai Natal é sempre generoso, por vezes, não acerta, mas o que vale é a intenção. O brilho no olhar das crianças vale tudo!
No dia de Natal e na "Primeira Oitava" continuamos com os convívios familiares e a troca de prendas. É tão bonito ver as famílias reunidas e as tradições a passarem de geração em geração. O que não será tão bonito de ver são os números que irão surgir na balança! O meu conselho, é nem olharem, agarrem-se a um Ferrero Rocher ou a Mon Cheri, porque festa é festa e em janeiro corremos atrás do prejuízo.
O Natal também aumenta o nosso espírito solidário. Sabemos que nem todas as pessoas vivem com as melhores condições e é nosso dever, dentro das nossas possibilidades, amenizar o sofrimento, o vazio, a tristeza e, até mesmo, a fome. As doações surgem de todas as partes e de várias formas. Todos merecem viver o espírito natalício. O Natal é um momento de reflexão, de amor e de partilha. Estamos todos juntos na batalha de fazer o outro feliz e de tornar o Mundo mais harmonioso e justo.
Estamos prestes a finalizar mais um ano. Tantos acontecimentos marcaram este ano, ocorrências positivas, outras menos positivas e algumas tão desumanas que até custa a recordar. Ficam as lições e o aprendizado. Há muita coisa que podemos melhorar e outras que devemos evitar. Inevitavelmente, somos invadidos por um sentimento de gratidão. Pessoalmente, sou grata pela vida, pela saúde, pelo trabalho e por ter ao meu lado os meus familiares que tanto amo, vivos e de saúde. Devemos ser gratos pelas pequenas coisas que, no final das contas, são as mais importantes.
Desejo a todos um Santo e Feliz Natal e faço votos de um Ano Novo repleto de sabedoria, de saúde, de vida, de paz, de respeito e de muito amor.