Lisboa foi escolhida na ultima jornada na cidade do Panamá, em 2019, com expressivo gaudio das entidades portuguesas ao mais alto nível. O Covid justificou o seu adiamento por um ano.
Nunca tive o prazer de estar numa Jornada dessas, embora já tenha ouvido testemunhos de quem participou e a forma como esse encontro marcou-os para a vida. A semana de preparação, o convívio, as relações com famílias de acolhimento, os momentos de oração, de perdão, peregrinação e de espiritualidade e as eucaristias de abertura e de envio, são experiências pessoais que não deixam ninguém indiferente.
É evidente que o convite do Papa faz crescer o interesse e a propagação da jornada e naturalmente Lisboa será uma cidade muito diferente nesses dias com uma população visitante de um milhão e meio de pessoas. Um teste à capacidade organizativa e acolhedora de uma cidade que nos últimos anos cresceu em termos turísticos e económicos. Mas também outras Dioceses - como a nossa - serão desafiadas a acolher na semana anterior tantos jovens que se preparam para essa experiência de intensidade inigualável.
Sendo uma jornada muito ao gosto da personalidade de São João Paulo II que valorizou no seu papado os grandes acontecimentos públicos como fundamentais para a evangelização, a alegria que nessa jornada se testemunha é bem típica do Santo Padre da alegria, como se reconhece ser o Papa Francisco. Será com certeza um grande momento de festa para a Igreja, mas muito maior ainda para os jovens e para a mensagem de Cristo junto dos mais novos.
E o Mundo precisa da mensagem de Cristo! E precisa que ela soe para além das margens do Tejo e alcance as causas da guerra, da miséria, da violência e da degradação moral e humana. São nos jovens que se deposita a semente dessa mensagem sempre renovada nos autos de fé naturalmente acompanhados de ritos semióticos que são essenciais à absorção das mensagens. É necessário entender que as experiências sensoriais e até visuais são também essenciais à evangelização, como tão bem nos faz sentir o Cardeal Tolentino.
Nos últimos dias, de forma muito conveniente para os decisores de um País que se arrasta na degradação da imagem da classe politica, veio à tona o valor do palco que se prevê edificar para a Jornada. É importante que se questione os gastos públicos e que se exija transparência. Tenho anos de luta por essa causa! E é fundamental que se esclareça da utilidade e das virtudes técnicas desse palco de cinco mil metros quadrados. Como também devia ser esclarecida, por exemplo, a despesa de um Web Summit (30 milhões por ano?) e de um circuito pedonal à volta do Parque das Nações que vai ultrapassar o custo daquele palco. Se é para esclarecer que haja a coragem de dotar os órgãos de fiscalização de reais condições para o fazer em relação à generalidade da despesa publica.
Mas há para mim uma questão superior a toda a polémica que merece ser dita. Para além de ter sido uma caixa jornalística que desviou as atenções do País do tema que nos últimos tempos atormentava o primeiro-ministro, ela esquece outros palcos que nos martirizam e nos envergonham como seres humanos e como portugueses. Há palcos muito mais merecedores da nossa revolta: os palcos da guerra na Ucrânia, os palcos da fome em África, os palcos da corrupção, os palcos dos desperdícios e dos atentados ambientais!
Que surjam e hajam palcos espetaculares que contrariem esses outros palcos da nossa vergonha!