Os partidos são suportes insubstituíveis do sistema político em que vivemos. Ou melhor, sem partidos políticos não há democracia representativa, eleições livres e, como acréscimo, as habituais intrigas alimentadas pela comunicação social e extrapoladas por mercenários e outros artistas de variedades.
É natural que tudo isto suceda em períodos de menor rebuliço ou de grande rebuliço como parece ser o caso particular que vai das Autárquicas ao crepúsculo da Geringonça com o OE. Sim, o governo de Costa começou a vacilar em Setembro, mas foi o Orçamento do Estado que lhe deu o golpe de misericórdia quando Marcelo decidiu lavrar a sentença antes de conhecer o crime. Resultado da aventura? 6 anos à deriva e um país enterrado na cauda da Europa.
Com o cheiro a eleições, chegaram os "patriotas" mais preocupados com o dia de hoje e lugares em listas do que com o dia de amanhã e o interesse colectivo. As justificações são as de sempre: em nome de princípios (?), de valores (?) e do que calha e dá jeito, tudo serve.
A política enche-se, portanto, destes subterfúgios e, às vezes, faz-se destes caminhos. Como dos caminhos em que se anunciam candidaturas partidárias em pleno processo eleitoral autárquico, seguramente certos da derrocada que prenunciavam. O problema é que a parte final do plano saiu furada e o passeio socialista não foi consumado. Aliás, as vitórias em Lisboa, Funchal, Coimbra ou Portalegre (mas não só) catapultaram o PSD para um bom resultado e mandaram à fava estudos de encomenda. Há cansaço das pessoas com a prepotência socialista, pormenor que as sondagens parecem não conseguir identificar. E não é raro ver as elites, entrincheiradas, desfasadas da realidade.
Inventado o sarilho, mostraram-se as cartas e houve quem não gostasse do modo, do contexto, do calendário e do jogo que tinha. Paciência. A verdade é que quem está à frente dos destinos do PSD, neste momento, devia ter primazia por três motivos.
Primeiro, porque num período em que vamos entrar em disputa eleitoral nacional, a contenda interna só contribui para afastar o eleitorado, promover o sindicato de voto e alimentar divisionismos. Segundo, porque os recursos partidários devem ser usados e cooptados para derrotar o PS e conseguir uma maioria de centro-direita. E, terceiro, mais importante, porque quem lá está é reconhecido, tem trabalho feito, já sabe ao que vai e está preparado para o desafio. Pode-se gostar ou não gostar do estilo de Rui Rio, mas não se faz inversão de marcha numa autoestrada.
Muitos dos argumentos contra Rui Rio passam pelos maus resultados eleitorais. Crítica que aceito, mas que não partilho. Porque pior que o resultado de Rio, foi o de Paulo Rangel, que tem no cadastro o pior resultado do PSD em eleições. Não há maneira de contornar ou de esconder: nas eleições europeias de 2019, Rangel teve 21,9%. Rio, meses depois, conseguiu 27,8%. Não são resultados comparáveis? Não são. Mas Rio concorreu contra um primeiro-ministro em exercício e Rangel contra o pior cabeça-de-lista de sempre da história do PS.
Portanto, Rangel devia ser magnânimo, não contribuir para retalhar o partido num momento complicado, aproveitar a dinâmica vitoriosa e de crescimento que as autárquicas trouxeram ao PSD e retirar-se da corrida, apoiando Rio neste momento difícil. Isso revelaria elevação, grandeza política e visão nacional sem hipotecar as suas legítimas ambições.
No mais, a vozearia nas televisões e jornais, feita por comentadores, bilhardeiros, avençados e por uma certa franja bem instalada que se reproduz entre si e que diz toda exactamente as mesmas coisas indicia o palpitar de uma certeza: que não são opiniões que ganham eleições, são os votos. Os votos e a mobilização das pessoas, como se viu nas Autárquicas deste ano e, se necessário for, como se provará também nas eleições internas do PSD. Na savana, ou no mundo mediático, as hienas atacam os leões. Mas não é por estarem preocupadas com as zebras.