“Eishhhh... Do que eu me safei!”, pensei eu quando vi meia ilha a arder e tinha prometido que não escrevia durante o mês que ontem terminou. Ok, quando digo meia ilha não me refiro à área ardida em si. Isso foram “apenas” pouco mais de 5 mil hectares! Pior foi o resto... De repente já se viam pessoas a querer queimar outras vivas! Juro. Um foi atirado para a fogueira porque não estava na Madeira a apoiar o povo que o elegeu (e o que não o elegeu também). Outro saiu chamuscado por ter ido fechar a casa de férias em vez de pegar na mangueira. Eu sei lá...
Mas convenhamos, havia motivo para tamanho alarido? Algum de vocês, que se incomodou com a ausência de Miguel Albuquerque, sente a falta do senhor? Quantos não queriam que ele passasse o resto da vida no areal? Alguns. Muitos. E não são poucos, aposto. E então? Porque não o deixaram lá quieto?
É que depois o homem lá se sentiu na obrigação de vir, e veio! E como é que o receberam? Mal, pois claro.
Resumindo e concluindo, tenho para mim que o que vos incomoda não é onde ele está! É antes o facto dele existir. E nisto já parecem a minha mulher. Há dias, em conversa, dizia-lhe que quando morresse queria ser cremado. Vi que ela apontou o “desejo”, mas achei que era para não se esquecer de nada no meio do choro da minha partida, que espero ainda longínqua. Fiquei foi surpreendido quando me ligaram no dia seguinte a informar que a cremação estava marcada para daí a 2 dias. Bem, eu sabia que podia contar com ela para tudo. Que não há nada que lhe peça, que ela não me conceda, mas caramba.... Dava tempo!
O que não dava tempo era para o Secretário da Saúde adiar a sua vida pessoal. Muitos de vós não devem saber o que é ter uma casa escancarada noutra ilha por fechar. Eu também não! Por isso não falem do que não sabem. Façam como eu. Calem-se. E deixem o homem em paz, por favor. Já se esqueceram que ele disse que “anormais, incompetentes e canalhas não têm lugar nesta terra”? Querem ver que querem ir para o Porto Santo, é? É? Vá. Juízo.
E bom senso, já agora. É que se são bons para apontar o dedo e criticar, também deviam elogiar quem faz por o merecer. Sim, refiro-me ao Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira. É que o José Manuel Rodrigues não deixou de ir à ilha dourada. Ele foi. Mas pelo menos soube escolher melhor as datas. Foi e veio sem dar nas vistas. Programou as suas férias fugindo à previsão de tempo quente e risco de queimadas. Esteve, portanto, cá do primeiro ao último minuto de combate às chamas.
Como se não bastasse, subiu, de camisa por dentro das calças, ao Pico Ruivo para “levar uma palavra de apoio e solidariedade aos operacionais e aos autarcas”. Aprendam. Muitos de vós escondem-se atrás de ecrãs e atiram palavras de arremesso pela internet. Mas ele, que podia também ter enviado essa palavra por mensagem ou email, quis ir lá acima entregá-la em boca. Se isto não é de valor, então não sei mais como é que ele vos pode agradar...
Nem ele nem o Presidente da Proteção Civil. Palavra de honra. Até com o António Nunes implicaram. Acreditam? Impressionante. Reparem, o homem não é de cá, certo? Ainda assim, na altura em que mais precisávamos, fez o favor de deitar o olho por isto sem sequer ir ver se, na sua verdadeira morada, tinha deixado a porta no trinco ou dado 2 voltas à chave. Marimbou-se para a sua própria habitação para proteger as nossas. Louvável. Está bem que ficou na dúvida se valia a pena mandar vir canadairs. Que disse que a “estratégia podia ser a de deixar arder” para depois, sei lá, apagar de sopro, Ok. Mas também, se sabiam fazer melhor, fizessem... Cambada de mal-agradecidos!
Ps, mais alguém, para além de mim e do Dr. Alberto João, corou de vergonha quando Timor-Leste aprovou um donativo de 2,2 milhões de euros de apoio à Madeira?!