Lembrava-me desses tempos durante os poucos dias que passei esta semana no Porto Santo. Ainda que já tivesse sido mais difícil, se nos lembrarmos das angustiantes passagens pela Travessa a bordo do Pirata Azul, Pátria ou Independência, a nossa relação com o Porto Santo é ainda muito semelhante à que o Norte e o Sul da Ilha tinham há 40 anos. A viagem é longa, demorada, e se levarmos carro podemos contar com acréscimo de uma hora antes da partida e meia hora depois da chegada. No total umas 4 horitas, para duas ilhas tão próximas.
Com a nova concessão a iniciar-se no final de 2025, penso que se devia refletir nesse mesmo relacionamento com o Porto Santo. Se queremos que continue a ser "uma viagem", uma espécie de mini-cruzeiro, ou se por outro lado devemos tentar apostar numa ligação o mais rápida possível, com menos pessoas de cada vez mas exponenciando as frequências.
Isto independentemente de se saber se o atual concessionário tem interesse, ou não, em manter a concessão, e se esta a ele será concedida. Não sou daqueles que divinizam uma empresa, levantando as mãos aos céus agradecendo por algo que é do seu estrito interesse comercial, mas também não contem comigo para diabolizar quem faz o seu trabalho empresarial com afinco, e busca legitimamente o lucro, cumprindo com as normas e legislação.
Talvez seja mais produtivo, isso sim, percebermos a realidade de outros arquipélagos europeus.
Comecemos pelo local de saída: Nas Canárias e em Malta, para dar dois exemplos que conheço razoavelmente bem, a ligação faz-se entre os dois portos mais próximos, tornando mais rápida e mais barata toda a operação. De resto, o ferry que liga a Capital La Valleta e a Ilha de Gozo, no país mediterrânico, acaba de ser considerada comercialmente inviável, impossível de competir com a sua concorrente que se limita a atravessar o canal que separa as duas ilhas. Há uns anos estava no Porto do Caniçal quando passou por lá o Lobo Marinho, exactamente 55 minutos depois de sair do Funchal...
Ainda em Malta, e tomando em conta que os navios têm duas "popas" atracando tanto de "frente" como de "trás", isso leva-nos a uma enorme poupança de tempo logístico, pois o barco não tem de fazer manobra de atracagem nem os carros de parqueamento, entrando num lado e saindo pela frente, no outro. É uma espécie de "vai e vem" que, navegando a uma velocidade semelhante à do navio que conecta as nossas duas ilhas, acaba por ser muito mais "ágil". Outro exemplo é dos novos trimarans que ligam o interior do arquipélago Canário. Velejando a 32 nós, cerca do dobro do que faz o Lobo Marinho, garantiriam uma viagem de 45 minutos entre o Caniçal e o Porto de Abrigo portossantense.
Poder-se-ia, por ilustração, "ir almoçar ao Porto Santo".
Se a diminuição drástica do tempo de viagem provocar um significativo aumento das frequências, consequentemente dos passageiros, e a diminuição das tarifas, teríamos uma win-win situation para os madeirenses, para o eventual concessionário e, principalmente, para os Portossantenses.
Em Malta, há Ferry para a "outra Ilha" de hora em hora. É outro tipo de relacionamento que devemos refletir.
E agora questiono porque a oposição, nomeadamente o maior partido dessa mesma oposição, não reflete sobre estes temas, preferindo a chicana política?