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Artigo de Opinião

Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Advogados

18/10/2023 08:00

Pois bem, o «já» e «agora» querem, de facto, dizer a mesma coisa. Mas será que dizer «já agora» é uma redundância? Será um erro de português?

Confesso que entendo que não, na verdade, esta é daquelas expressões bem portuguesas, que merece aqui ser visitada.

São tantas as ocasiões em que recorremos a esta expressão idiomática, "já agora", que dá muito jeito, significando, na maior das vezes, o aproveitar duma ocasião.

Foi assim que o governo da república invocando o interesse público, e a necessidade de receber mais uma prestação do bendito PRR, predispôs-se, de forma unilateral e em tempo recorde a, já agora, aproveitar para alterar profundamente e aprovar a nova lei das Associações Públicas Profissionais (LAPP) e as adaptações dos Estatutos das Ordens Profissionais (EOA no caso da Ordem dos Advogados).

Contudo, em muitas ocasiões, esta maravilhosa expressão representa um enorme perigo, porque como dizia um amigo meu, o grande problema é o já agora, pois começamos, por exemplo a reconstruir um carro clássico e na oficina dizemos: é só para dar um jeitinho. Mas depois quando começa a reparação e caímos no erro de ir ver o andamento dos trabalhos, rapidamente deparamo-nos a dizer: mestre já agora vamos dar um jeitinho ali, e já agora também acolá. Resultado final, um trabalho melhor, mas um custo incomparavelmente (às vezes perigosamente) maior.

Ou então aquela ligeira modernização da cozinha que, por força do já agora, tornou-se praticamente numa casa nova (sim porque pela parte do construtor é uma janela de oportunidade para aumentar o orçamento e, a resposta é sempre, sim senhor, acho que faz bem, já agora que está a mexer, arranjámos tudo) e, por vezes resulta ainda numa dívida ao Banco.

Este "já agora" quase que merecia uma tutela legal, passando a ser um daqueles elementos a acrescentar aos muitos diplomas legais, quer seja como vício na formação da vontade, quer por exemplo, à lei dos concursos públicos pois são tantas as vezes em que, a obra a avançar e apetece dizer ou é mesmo dito, já agora vamos também fazer mais isto, que não é feito porque estamos legalmente impedidos.

Pense bem e, já agora, veja no seu dia-a-dia quantas vezes recorre a esta expressão. É daquelas que serve para a maior parte das situações, porque, "já agora que vamos fazer isto, mais vale fazer tudo".

Enquanto escrevia este texto, estava ao telefone com um cliente, e dei por mim a dizer: já agora, deixe-me aqui no escritório, uma cópia da escritura para eu ver.

Nesse momento perguntei-me por que razão não lhe disse apenas, deixe aqui no escritório?

E a resposta vem no sentido da oportunidade, porque estávamos falando doutro assunto, quando a talho de foice, lá veio esta escritura, e de imediato, o já agora.

Noutras situações o já agora é mesmo aproveitar o momento, como seja "ora bem, já que aqui estamos…".

Cá está o que acima dizia, o perigo do uso desta expressão que, é olhada de forma diferente pelos dois interlocutores, o que a utiliza (já agora vamos fazer - com os riscos que daí advêm) e o que gratamente a ouve (vamos sim senhor- com os rendimentos daí decorrentes).

A propósito, encontrei o meu cliente (do se fosse comigo), acompanhado do filho e de um amigo, tendo este último convidado para tomarmos um café. Lá fomos e, resultado, uma cerveja para o amigo e outra para o meu cliente, mais um saco de batata frita, um gelado e um pacote de sugus para o filho e um café para mim. Depois de algum tempo de conversa, peço a conta e, lá vem ele: ah doutor se fosse comigo, quem convidou é que pagava.

E eu, prontamente respondo deixe lá, já agora, pago eu.

Do outro lado da mesa, o filhote com sorriso matreiro, olha para a empregada e diz-lhe: olhe, já agora que o doutor está a pagar, traga também uma seven-up.

Bem, por hoje fico por aqui, mas, já agora, se o senhor diretor não se importar, volto daqui a quatro semanas.

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