Institucionalizou-se num rito anual, legítimo, saudável e necessário, de forte exteriorização de massas humanas. Sempre um conjunto alegre de usos, costumes, atitudes, vividos ao estilo das festas populares madeirenses, assim decorrendo na mais rigorosa expressão da nossa Cultura e Civilização.
Veja-se os conceitos de Cultura e de Civilização.
Um cerimonial popular que, ano a ano, traduz o culto de um Ideal superior, a Autonomia.
Desde o início da História da Humanidade sempre se praticaram rituais colectivos, sagrados ou profanos, celebrando o que de mais sério ou mais querido para cada um desses grupos humanos.
Neste caso, a identificação do Povo Madeirense com a Autonomia e uma demonstração pública da satisfação e apego a este nosso Direito Natural, finalmente reconhecido ao fim de séculos, mais ainda ilegitimamente limitado pela sobranceria e pelo atraso cultural da Lisboa colonialista.
Razão pela qual a liturgia do Chão da Lagoa, além de comemorativa, continua SINAL DE LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS.
Onde o Povo lembra aos mais pusilânimes e emburguesados que esta não é ainda a Autonomia Política que queremos e a que temos Direito no seio da República Portuguesa.
Onde o interclassismo dos que ali estão, vive a sabedoria de TODOS entenderem que a Política é ousadia, é coragem, é grandeza e não a mediocridade do imediato, do comezinho, das coisas pequenas que fazem do dia-a-dia uma rotina cega, incapaz de ganhar futuros.
Os que ali estão e os outros muitos que comungam no mesmo espírito, sabem que os pecados mortais madeirenses, atrofiantes ao longo da História, não são apenas a inveja e a bilhardice.
É também o conformismo. Contentar-se com pouco. Viver para um consumo sempre o mesmo. Pactuar com a vulgaridade e com as "modas" absurdas. Aclamar os medíocres. Embasbacar ante tudo o que venha de fora.
A Autonomia Política é inclusive para pôr fim a todo este trágico histórico.
Mais importantes que a infraestruturação do arquipélago, foram os investimentos, materiais e imateriais, que, ainda ante alguma resistência local, trazem uma mudança de mentalidades, de transformações sociais e de arrojo em todos os domínios, em particular no Conhecimento, na Ciência, na Cultura e na Arte, e sua transposição ou intercomunicalidade com o mundo.
O "Chão da Lagoa" começou em 1978, no Paúl da Serra, Sá Carneiro presente.
E logo com que estrondo!...
Não vou reproduzir aqui - aí a falta de espaço... - o que, no livro "Relatório de Combate", narro sobre os antecedentes e consequências políticas que o envolveram sobretudo a nível nacional (pág. 144).
Depois, experimentaram-se vários locais da Ilha. Aprendemos que, nas serras da Madeira, o primeiro fim-de-semana de Agosto é o primeiro de inverno. Recordo uma das Festas, nesse ano também noutra zona do Paúl da Serra, todos nós encharcados, as pessoas envoltas em cobertores, plásticos e agasalhos, uma fila de carros desde a Ribeira Brava, e não poder haver nem espectáculo, nem discursos, porque as bátegas de água punham em risco humano a utilização de meios eléctricos.
E o Povo não saía dali! Comovente!...
"Je vous parle d'un temps que les moins de vignt ans ne peuvent pas connaitre", cantava Aznavour.
Concluiu-se dever estabilizar a Festa anual em Julho e no Chão da Lagoa, estudadas a meteorologia, as acessibilidades e a intendência.
Hoje, já com muito melhores condições, é feita na "Herdade do Chão da Lagoa", propriedade do Instituto Autonomia e Desenvolvimento da Madeira.
Em Política, há que estar sempre na boca de cena. Fundamental para a Madeira. Recordo os receios que, semanas antes da Festa da Autonomia, a comunicação social de Lisboa começava a estampar, nervosa e provocadora.
Depois, era uma estridência exagerada ante tudo o ali dito ou acontecido. A barbárie, inculta, não entende que a Autonomia Política é a portugalidade no seu melhor e mais democrático aprofundamento.
O sarilho quando Durão Barroso terminou o seu discurso com um "Viva a Madeira livre!", como se todos nós, todo o Povo português, não tivéssemos o Direito de aprofundar as nossas Liberdades!...
No meu último "Chão da Lagoa" como líder do PSD/Madeira, 2014, terminei a intervenção dizendo "volto para o Povo, de onde vim". E saltei do palco, deixando aí surpresos os Dirigentes, e no meio das massas populares apaguei as velas do bolo de aniversário do Partido madeirense (40 anos).
Ano que vem, Agosto (PSD/Madeira), são já 50 anos... ouviram?...
Uma canção italiana diz não devermos voltar aos lugares onde fomos felizes. Aparentemente não sou "sentimental". Mas, depois, só lá tornei para acompanhar o Rui Rio, porém recusando o convite para estar no palco.
Voltara para o Povo donde saí.
Ah! Houve outra vez, que estando em cima, na casa do Instituto, passei lá pensando que todos já tinham ido embora. Não é que deparo-me com o Passos Coelho, de saída?!...
Este ano, nesse dia, que as minhas oitenta "primaveras" já não me propiciam a embalagem de outrora, nem a resistência às tentações, estarei lá em coração.
Um dia, se Deus me der vida e saúde, e se for preciso, espero voltar, com o Povo aonde retornei.
Porque nenhuma idade tira o mínimo de força às Causas que nos unem, nem as gerações mais novas deixam afrouxar o que tanto e tanto tempo custou a conquistar, e Todos os que podem, dizem sempre "presente".
Por isso, também lá estou!