O termo Love Bombing (bombardeamento amoroso) foi originalmente cunhado na década de 1970 para descrever estratégias praticadas por cultos religiosos para atrair novos recrutas. Recentemente, tem sido utilizado no contexto das relações amorosas, quando uma pessoa faz demonstrações exageradas de atenção e afeto, antes de se afastar abruptamente, para manipular um potencial parceiro e exercer controlo emocional sobre este.
Tal como o Ghosting, o termo foi transposto para o mundo do trabalho. Mais concretamente, as chefias oferecem atenção, elogios e recompensas excessivas para criar um sentimento de lealdade e empenho, funcionando como uma ferramenta de manipulação para atrair, reter, controlar e explorar os colaboradores. A razão por detrás do afeto é uma tática dissimulada para tirar partido do colaborador e exercer controlo e influência sobre este.
O Love Bombing pode fazer com que um colaborador se sinta valorizado e confiante numa fase inicial. A curto prazo, a prática contribui para um ambiente positivo, para o envolvimento com os colegas e para um sentimento de pertença organizacional. Contudo, quando o empregador não cumpre as suas promessas, gera expectativas irrealistas e leva à desilusão. Consequentemente, cria-se uma cultura de medo e intimidação, em que os colaboradores receiam falar ou abandonar a empresa. Isto poderá levar a elevados índices de stress e ao burnout, uma vez que os colaboradores se sentem obrigados a expressar emoções positivas que podem não ser genuínas.
Um caso paradigmático de Love Bombing corporativo consiste num recrutador que contacta um potencial candidato para uma função em aberto, elogiando-o, dizendo que as suas competências, antecedentes, experiências, formação e reputação fariam dele um excelente candidato para a função. Apregoa uma grande compensação e promete uma ascensão meteórica. Quase todas as pessoas com quem o candidato se cruza ao longo do processo de contratação também dizem coisas entusiásticas sobre o candidato. Após meses de entrevistas, o responsável de RH diz que gostaria de fazer uma oferta. O candidato analisou previamente a descrição do cargo para saber qual a faixa salarial e falou com os entrevistadores sobre o que pretendia relativamente à remuneração total, benefícios, entre outros assuntos. Contudo, a oferta é inferior ao esperado. Uma vez que o candidato foi alvo de um “bombardeamento amoroso” durante todo o processo, sente-se pressionado em aceitar a oferta. Com o passar do tempo, o cargo não é nada do que pretendia e em vez de pedir desculpa, o empregador culpa o novo colaborador por não ter compreendido bem ou por não ter ouvido corretamente quando discutiram as condições.
Em suma, o Love Bombing no seio das organizações, embora nem sempre mal-intencionado, augura efeitos prejudiciais. A pressão e a lisonja podem levar os colaboradores ao fracasso, a acabar em empregos onde as promessas não correspondem à realidade ou à espera de funções que nunca se concretizam. Afeta também a restante organização, uma vez que além da vítima ver reduzida a sua produtividade e saúde mental, a pessoa que perpetua o Love Bombing espalha uma cultura de medo, levando os restantes colaboradores a temer denunciar. Estar consciente da existência e das repercussões deste comportamento pode ajudar a evitar problemas. Parafraseando Norman Vicent Peale: “O problema da maioria de nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio do que salvos pela crítica.”
Votos de um feliz e santo Natal!