Certamente por muito mérito dos madeirenses e porto-santenses, um povo hospitaleiro e trabalhador que tem quase sempre um sorriso para oferecer e o dom de bem receber quem nos visita.
Mesmo quando tem uma carga horária de 10h ou mais horas de trabalho diário, incluindo horas extra que entraram já na rotina e pagas a preço de saldo (quando isso acontece!); mesmo com os baixos salários praticados quer no público quer no privado, incapazes de os retirar de ciclos de pobreza muitas vezes escondida. E os números da pobreza são avassaladores na Madeira: 82.000 pessoas, ou seja, mais de 30% da população residente no arquipélago está em risco de pobreza, muitas delas profissionalmente activa. Muitas questões se levantam, mas essa reflexão fica para outra oportunidade.
E nesta história dos deveres e dos direitos, verifica-se que os deveres são intocáveis e que apenas os direitos são questionáveis, sendo que o pendor é invariavelmente imputado ao elo mais fraco desta relação: os trabalhadores. Por isso é tão importante a contratação colectiva, pois só com a força de muitos é possível fazer valer posições e encetar negociações eficazes.
Mas nesta equação de Melhor Destino, não pode ficar de fora a mãe natureza que nos presenteou com paisagens deslumbrantes e com um clima ameno, que nos permite e a quem nos visita desfrutar da beleza das ilhas durante todo o ano. "A diversidade biológica existente no arquipélago da Madeira constitui um património de elevado valor, com grande interesse científico e com relevada importância do ponto de vista da conservação, devido à existência de numerosas espécies endémicas de fauna e de flora", diz uma nota na página do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza da Madeira.
São estes os três traços distintivos que nos identificam e diferenciam dos restantes destinos insulares: hospitalidade; paisagem e clima.
É principalmente por isto que os turistas continuam a escolher ou a repetir este destino.
Cientes desta realidade e do peso do turismo na economia regional, como aliás ficou bem patente com a pandemia, como é possível que o Governo Regional continue a optar por pavimentar a nossa floresta milenar, por sinal Património Natural da Humanidade, fazendo letra morta daquilo que o seu próprio organismo de preservação determina; ou por destruir a orla costeira sob a égide da requalificação como acontece em São Vicente; ou por descaracterizar uma das paisagens mais emblemáticas do coração da ilha, como é o Curral das Freiras, com investimentos pouco claros, envoltos numa total falta de transparência e onde o uso dos dinheiros públicos servirá desconhecidos e não revelados interesses privados.
E fá-lo de forma reiterada, independentemente das vozes qualificadas que se oponham, numa clara postura de "quero, posso e mando". Recorrendo a estudos de impacto ambiental feitos à medida das suas decisões e não consubstanciando as suas decisões nas avaliações de impacto que são necessárias efectuar.
Sabemos nós que os fiéis depositários de todo o património material e imaterial são eleitos de quatro em quatro anos e que do caderno de encargos que têm de cumprir inclui-se, entre muitas outras coisas, o respeito e a preservação deste património que é de todos e uma gestão equilibrada em prol do bem comum, que seja benéfica para todos e não apenas para o bolso de alguns.
Mais do que o direito, temos o dever de questionar todas as opções do Governo que colocam em causa não só nas nossas vidas, mas também as das futuras gerações.