Os museus contavam-nos histórias dos lugares, dos homens e ligavam-nos ao tempo e ao espaço. Nós, crianças, éramos parte de uma coisa maior do que nós, ali ao nosso alcance. Realizados como serviço para a sociedade e para o seu desenvolvimento, fruto de pesquisa, testemunho material e imaterial da humanidade, os museus conservam, comunicam e tornam acessíveis os bens culturais com o objetivo do estudo, da educação e do prazer.
Hoje, à simples lógica da conservação e exposição, os museus modernos uniram os arquivos, as bibliotecas e o espaço ativo de estudo e de investigação. Há, na Madeira, exemplos de museus de excelência que se ligaram com as dinâmicas locais e têm contribuído para descentralizar a cultura, com exposições e projetos sempre renovados: do Museu da Baleia ao Museu Etnográfico até à Casa das Mudas e ao Museu de São Jorge, só para citar alguns fora do Funchal.
Mas, também há outros. Os tantas vezes sonhados e orçamentados que até parecem que já existem ou que os já visitámos. Uma espécie de devaneio museológico que inclui o dos Carros Clássicos, o do Romantismo e o da Música. O do Romantismo, por exemplo, depois de ser colocado anos a fio nos diversos orçamentos da Região, teve, finalmente, honras de anúncio que o processo tinha seguido para Tribunal de Contas uns dias antes das eleições autárquicas de 2021, com a presença do candidato da coligação PSD/CDS. As obras já começaram e o acervo está a ser comprado. É estranho este construir-se de fora para dentro, com acervo proveniente de outros países. Aliás, o oitocentismo na Madeira até já está bem representado em muitos dos excelentes núcleos museológicos existentes numa relação de tempo/espaço com a cidade.
Já ouvi várias promessas de que o Museu da Música iria avançar. O projeto existe, mandado fazer pelo Xarabanda, e alia exposição a espaço de estudo e prática. Existem os instrumentos para expor, as partituras, as recolhas, a pesquisa, a ligação profunda à Madeira e existiria também o interesse dos visitantes se se concretizasse. O património musical da Madeira é riquíssimo, e não o valorizar desta forma é não compreender que em termos culturais e em termos turísticos a Região fica a perder: isto é, perde-se em estudo, em educação, conhecimento e prazer. Além disso, faz parte da história global da região, é ligação com a diáspora e representa um capital identitário que atua no presente, com novos músicos, públicos, trabalho na produção de instrumentos e possibilidades de investigação.
Nas zonas mais periféricas, caso do norte da Ilha e de Porto Santo, os museus podem atuar numa relação virtuosa que se pode estabelecer entre museus de identidade, turismo cultural e desenvolvimento local das comunidades. As experiências internacionais demonstram que as atividades realizadas e promovidas pelos museus - em lógica GLAM (Galeria, Biblioteca, Arquivo, Museu) - entraram no sistema mais amplo local, agregando valor aos recursos do território e às capacidades produtivas das comunidades de referência. Numa região marcada pelo despovoamento e por índices baixos de escolaridade da população residente, os museus podem desempenhar importantes funções educacionais, constituindo também atrações turísticas, animando os territórios onde surgem, bem como proporcionando oportunidades de crescimento e desenvolvimento local. Não podem é ser apenas sonhados e ficarem depois na gaveta durante anos a fio, num destino de esquecimento, votados à desmemória e a orçamentos eternamente não executados. E temos a sensação que não são só eles os engavetados. Estamos lá nós com eles, à espera.