Há meses que nos pedem para ficar em casa, para seguir um sem número de regras, para não estarmos com os nossos, para vivermos à distância, sobretudo, para salvar vidas. Pedem mais um sacrifício e a maioria acede para ajudar os profissionais de saúde, para poupar recursos porque, neste momento, o nosso país já não dispõe dos suficientes para cuidar de quem quer viver.
Resistimos. Na navalha da vida. Mas resistimos.
Em janeiro, no meio de uma pandemia, a Assembleia da República aprovou a eutanásia. Há meses que morre gente atrás de gente porque lhes falta tanta coisa. Mas os abnegados eleitos, neste inesquecível e frio janeiro, decidiram dar, ao seu país, a eutanásia.
A minha questão nem sequer é, agora, a eutanásia enquanto direito, enquanto opção na vida. Essa seria outra reflexão. A minha questão é como e quando se decide debater, pensar e avançar com um assunto tão sério para Portugal. E como se decide, ou não, envolver o país nesse momento.
Confinamos (alguns) para a vida, mas desconfinaram para aprovar um direito que merecia maior participação cívica. Então e a voz do povo? Só interessa quando não atrapalha? Não teria sido mais ponderado, ético e democraticamente correto adiar esta votação?
No meio de uma pandemia, a Assembleia da República aprovou a eutanásia. Num momento desprovido de qualquer sentido, em que qualquer argumentação esbarra com o esforço heroico dos nossos profissionais de saúde, precisamente, em salvar vidas e em que tantos choram a perda dos seus entes queridos, vítimas de um inimigo invisível que dá ao país um contexto sanitário, económico e social nunca antes vivido.
Resistimos. Na navalha da vida. Mas resistimos.
Ainda há esperança. O reeleito Presidente da República tem nas suas mãos o poder de inverter esta realidade e (porque não sou pelo extremismo mas pelo verdadeiro debate) conceder a Portugal, a possibilidade de, em tempo próprio, envolver-se e discutir o que quer fazer e o que tem a dizer sobre a eutanásia. Fazer o que já fez para outros assuntos, aqui há uns anos.
Resistimos. Na navalha da vida. Mas resistimos. À pandemia e às agendas políticas de quem acha que este era o momento certo para progredir. Progredir onde? No papel? Não nos impinjam um retrocesso cívico letal quando ainda, pela vida, tanto há a fazer. Façam a vossa parte.