A Madeira volta a viver um Natal repleto de incertezas. Mas há pelo menos um dado inequívoco: a culpa do momento é dos políticos. Não é da política, atenção. É de quem lá está, mas é bom que se diga que não o fazem por mal. Tenham calma. É uma questão de feitio, pronto.
Na democracia de hoje, principalmente os que parecem viver desfasados da realidade laboral, há sempre quem peça o céu e tenha objetivos que nem o próprio Pai Natal seria capaz de concretizar. Querem tudo e, não raras vezes, ficam com menos do que começaram.
Essa sofreguidão descomedida não é maldade. É feitio.
A demagogia, diga-se, tomou conta de muito boa gente. Todos colocam a Madeira em primeiro lugar. Nem que seja no discurso. Mas rapidamente nos apercebemos do baixar de cabeça e o olhar direcionado para os seus umbigos. Aliás, até pode haver quem olhe para o umbigo dos outros, mas apenas para ver se têm mais do que o seu.
Não o fazem por mal. É feitio.
A ilusão, porém, deve fazer parte do nosso quotidiano. E até pode ser um fator positivo. Sinal de ambição e esperança em mais e melhor para um determinado projeto. Importaria, no entanto, que essa expectativa não atropelasse o senso comum, que impede, por vezes, a perceção de situações que a maioria se apercebe de imediato.
Por exemplo, é notório que o Marítimo não vive um bom momento. E que há maritimistas – que se identificam como tal – satisfeitos com os insucessos atuais. E se é verdade que a responsabilidade da gestão pertence à administração, os problemas inerentes do ruído externo que acrescenta instabilidade também não é de somenos importância. Todos veem o clima de guerrilha existente desde a saída de Carlos Pereira.
Mas não é por mal. É mais forte do que eles, pronto. Feitio, dizem-nos.
Em suma, há sempre quem se alegre com o mal dos outros. Quem está feliz porque alguém não conseguiu ser bem sucedido. Ou porque foi ultrapassado pelo vizinho, ou porque não teve coragem de arriscar e sair da sua tal zona de conforto que é a maledicência.
Dizer mal sempre foi mais fácil do que dizer bem. Não sei porquê. Mas é assim mesmo. Há quem se dedique de corpo e alma a dizer mal de tudo e de nada. Do chefe, do colega do lado, do treinador do seu clube, da liderança do seu partido, do amigo do amigo, etc. Há quem mostre mesmo grande aptidão para a invenção difamatória, a injúria bem medida ao ponto de se confundir com a verdade. A maioria não o faz por mal. É mais forte do que eles.
Faz lembrar o elogio célebre a uma tal personagem que “dizia mal de tudo, mas até era boa pessoa”. Um quase contrassenso que acaba por fazer algum sentido na sociedade em que vivemos, em que a meritocracia é uma miragem. Porque é mais fácil deitar abaixo do que construir. Dizer mal do que dizer bem. Não devia, mas continuamos rodeados de exemplos de boas pessoas com tendência para a má-língua. Como é Natal, o melhor é deixar andar e perceber que é normal. Não devia, mas é.
Não o fazem por mal, é feitio.