Hoje faço uma pequena reflexão sobre o tratamento das novas drogas, que já são velhas entre nós. Chamam-se novas substâncias psicoativas e têm muitas categorias. Quanto ao tratamento, esse é conhecido por ser bastante limitado. Mas será?
Começamos por pensar no tratamento das drogas clássicas. Em termos de medicação eficaz para o tratamento das adições com aprovação oficial temos: tratamento de substituição para os opióides, antagonista para opióides e álcool e redutores de vontade de consumo para álcool e tabaco. Como podem imaginar, mesmo pensando só nas drogas clássicas, temos muitas outras famílias, como a canábis, cocaína, anfetaminas, alucinogénios, ... sem tratamento farmacológico. Muito antes de aparecerem as novas drogas, já tínhamos dificuldade de tratamento de muitas substâncias e no tratamento das adições sem substância.
Se não existe tratamento farmacológico aprovado, não existe tratamento? Este é o principal mito que parece crescer pela sociedade madeirense, há medida que as novas drogas continuam a devastar a população. Na verdade, existe tratamento e é importante falarmos sobre ele.
Em termos farmacológicos existem várias opções para controlar sintomas de abstinência e a ajudar a diminuir os sintomas que em primeiro lugar motivaram a pessoa a consumir. Depressão, ansiedade, exaustão e solidão, são apenas alguns dos sintomas que fazem as pessoas procurarem ajuda nas drogas. Ao diminuirmos estes sintomas, ajudamos as pessoas a evitarem o consumo.
Nem só de fármacos se faz o tratamento. Na verdade, o principal tratamento das adições não é farmacológico, é psicológico e social. Ao longo das décadas têm sido os tratamentos psicológicos quer em ambiente de consulta, de grupo ou de comunidade terapêutica, que têm sido a parte fundamental do processo de tratamento e cura. Os fármacos em muitos casos ajudam e facilitam o processo, a diminuir sintomas e a tratar algumas doenças associadas, mas o processo de libertação passa, na maior parte das pessoas, por um bom tratamento psicológico. Quando a pessoa enfrenta o seu dia-a-dia, são as estratégias psicológicas desenvolvidas que o impedirão de voltar a consumir. Dar de volta a escolha à pessoa.
Da mesma forma, as intervenções sociais são fundamentais. As comunidades terapêuticas servem para o tratamento a médio prazo – 1-2 anos, mas a pessoa eventualmente sairá e ao regressar à sua vida, precisa de apoio para a mudança. Nos casos mais graves, para quem estas comunidades são fundamentais, regressar à mesma casa e ao mesmo bairro, culmina na recaída. São os apoios sociais que permitem a reconstrução da vida pessoal e profissional depois da destruição que as drogas provocaram.
E sim, há casos de recuperação completa de pessoas que consumiram bloom (mefedrona) e outras drogas novas e antigas. É fundamental termos a esperança no tratamento e mesmo que a pessoa caia ou recaia, como sociedade, temos de apoiá-la nas suas tentativas de deixar a adição. Uma equipa coesa, multidisciplinar e com recursos de todas as áreas de atuação, é uma das peças chaves para a resolução destas doenças, tanto na comunidade, como nas prisões. Enquanto tivermos falta de profissionais ou de soluções, o tratamento será coxo.
Toda a sociedade tem de estar unida na prevenção e tratamento das adições, porque o cérebro humano é guloso por poder e prazer e as adições com e sem substância dominam a sociedade. As adições legais estão cheias de publicidade ou já são tão presentes e viciantes, que nem de publicidade precisam.