Era o expoente máximo da nossa irreverência, o baluarte da nossa juventude e epicentro da nossa invencibilidade. A vida na aldeia trazia desafios também para os mais novos. Era tudo longe: A cidade, as discotecas, o futuro.
E a impaciência própria dos verdes anos não se dá com lonjuras. O grupo de jovens era o nosso reduto, o ponto de encontro, onde mais nos expressávamos. Era a nossa união e a nossa força. O adro da igreja e as ruelas adjacentes eram a passerelle dos nossos sonhos, da nossa ambição e da altivez zombeteira de quem tem a vida pela frente.
Colocávamos o mesmo entusiasmo em animar a missa de domingo, como em fugir para provar os licores das mães às escondidas. Em planear um dia de visita aos idosos acamados na aldeia, como a convencer os nossos pais – um a um - de que podíamos apanhar três autocarros ou ir metade do percurso a pé para uma noite de dança nas Vespas e voltar no dia seguinte. Que nunca nos largaríamos e que nos portaríamos todos bem. Era um por todos e todos por um. Mesmo quando nos chateávamos e a secretária em funções não tinha as atas das reuniões em dia, ou quando um ou outro se interessava por coisas fora do grupo, divergindo a atenção das tarefas que estavam confiadas, abanando o coletivo por decisões individuais. Às vezes, havia quem prolongasse a música mais do que o devido naquela canção acompanhada por guitarras e que dava jovialidade às celebrações, outro exagerava no agudo da segunda voz. Não poucas vezes esqueceram-se de que os mais velhos que visitavam mensalmente padeciam quase todos de diabetes e outras maleitas da idade e que de nada lhes servia a doçaria com que os presenteavam. “Comam vocês”, dizia o ancião cheio de lágrimas, feliz só pela lembrança e por tentar adivinhar quem eram os progenitores e de quem descendiam. O coração insuflava, ainda que escondessem, com o epíteto de “bons meninos” que recebiam e pela quantidade de alegria que deixavam apenas com a sua passagem, como antídoto da solidão. Riam-se e faziam coisas próprias da idade nas veredas da freguesia que calcorreavam para as mil coisas que inventavam para passar o tempo e agarrar o futuro que teimava em não vir. Uma vez madrugaram para ir ver o sol nascer no Pico Ruivo, mas atrasaram-se na travessia entre picos e viram-no nascer entre serras, com o pé a espedir para o perigo, mas sempre na segurança e valores que aquele grupo trazia e pelos mais velhos que militavam entre eles guiando-os sem imposição.
O grupo de jovens foi mais do que o nosso passar de dias. Foi uma escola informal onde tantos de nós bebericaram mais do que os licores de frutas às escondidas das mães.