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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

3/12/2023 04:00

Salomão é conhecido na Bíblia como um personagem célebre e o mais sábio.

Mais do que uma sabedoria humana trata-se de uma sabedoria infundida por Deus, proveniente de uma fé no Deus de Israel. Era dotado de uma sabedoria no modo de julgar as coisas de cada dia, uma grande habilidade política e grande conhecimento do coração humano. A Bíblia narra a oração de Salomão no santuário de Gabão, em que o jovem Rei pede a Deus a Sabedoria para bem governar o seu povo. Um outro dom de Deus era saber decifrar os enigmas. Jesus refere a visita que a rainha de Sabá fez, e a grande viagem, para ver Salomão, dizendo: “aqui diante de vós está quem é mais que Salomão” (Lc.11,31).

A maior obra e a mais bela do seu tempo, foi a construção do Primeiro Templo de Jerusalém, que foi erguido sobre a fortaleza dos Jebuseus, que seu pai David tinha conquistado e se chamava “Cidade de David”.

Salomão nivelou a colina em dois planos, para construir o seu palácio e, o outro, um pouco mais alto para construir o Templo, a Casa de Deus. Este edifício foi realizado pelos arquitetos fenícios, estava orientado para o oriente, quando os raios do sol nascente passavam entre os dois obeliscos postos à entrada, penetravam até o lugar Santo (Hekal)), atingiam o Santo dos Santo (Debir), o lugar sagrado da residência de Deus. Ideia semelhante encontrava-se nos templos do Egito. Dentro do Debir encontram-se dois querubins de cinco metros de altura de madeira de oliveira dourada.

Estes querubins gigantes, como se encontram nas escavações do Egito e da Assíria, vestidos de longas vestes e braços revestidos de longas asas, não representam a divindade, mas indicavam o lugar onde Ela se encontrava.

A Lei de Moisés proibia duramente qualquer tipo de reprodução da divindade.

Nos povos vizinhos da Terra Santa, acreditava-se em seres intermediários que levavam pelas mãos os homens para os deuses. O espaço entre os dois querubins estava vago, não havia ali nenhuma representação da divindade. A religião de Israel tinha uma superioridade sobre todas as outras religiões do mundo antigo ou mesmo atual.

A Arca da Aliança deveria ter permanecido mais de três séculos no templo de Jerusalém.

Sobre a esplanada do Templo, voltada a Oriente, erguia-se o altar dos Holocaustos, uma longa pia de bronze, um pouco elevada nos quaro ângulos. Para que os sacerdotes e seus ajudantes subissem para sacrificarem e queimarem os animais, havia umas escadas e uma rampa. Um grande braseiro estava sempre acendido e alimentado dia e noite para arder as vítimas dos animais oferecidos a Deus. Além disso, havia também um grande reservatório circular chamado “Mar de Bronze”, que tinha uma grande taça e assentava sobre quatro grupos de três bois de bronze, com muita água que servia para as abluções dos sacerdotes, para a limpeza do altar e dos átrios sujos com sangue dos animais sacrificados, para serem queimados.

O serviço do Templo exigia muita água que devia ser trazida por sacerdotes e levitas, para o serviço quotidiano do Templo de Jerusalém.

Este Templo era uma novidade em Israel, Deus escondia-se na obscuridade do Santo dos Santos, um Deus com um culto minucioso. Tempo houve no deserto em que Deus habitava no meio do seu povo, falando familiarmente com ele e quase tratando-se de igual para igual, ou então, quando David dançou alegremente diante da Arca da Aliança, que foi hospedada numa tenda levantada num átrio do palácio, tudo preparado para reconhecer as suas graves faltas, diante de Deus e dos seus súbditos.

O Templo de Jerusalém iniciava uma longa, mas trágica história, cheia de ensinamentos religiosos. O profeta Natan, inspirado por Deus, previa o perigo desta casa de Repouso na cidade santa. Os homens são sempre tentados em manter Deus à sua disposição, a usá-lo para seu proveito exclusivo. O profeta Natan fala a David dizendo-lhe que Deus não está interessado, nesta ocasião, numa casa de pedra e madeira dos cedros do Líbano. O que Deus quer é viver com o seu povo, caminhando com Ele na sua vida de todos os dias.

Também nós, erguemos as nossas catedrais, as nossas igrejas paroquiais, e poderíamos pensar que Deus está contente connosco, por uma casa sumptuosa, com cerimónias brilhantes, alegres missas do parto, e assim nos permitiria que, dia a dia, semana após semana, se cometa toda a espécie de injustiças, de violências, de roubos, jurar falso, cometer adultério, matar a esposa, ou vice-versa. Em 586 a. C. os exércitos de Babilónia tomaram Jerusalém e destruíram o Templo até aos alicerces. O profeta Ezequiel, (Ez. Cap.10 e 11) nas suas visões, declara que viu Deus deixar o Templo para seguir com o seu povo para o exílio de Babilónia.

São João Evangelista, no Apocalipse, apresentando a cidade futura, diz que nela não haverá Templo, visto que Deus em pessoa, estará no meio do seu povo (Apoc.21).

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