Era o brilho da pedra que eu procurava, o temor ultimado de uma febre por nascer. Mas sem a tua mão tudo escurecia perigosamente, até para mim, que me habituei devagar às espantosas visões do escuro; como agora, neste dia, num só mar, com a tua cabeça inclinada sobre o medo do meu corpo - todo o amor começa nessa inclinação sobre o medo - Seguras a minha mão como se em mim percebesses a mais íntima morte pelo punho do silêncio, e então eu sobrevivo clandestinamente nos pelos do teu corpo, procurando uma estranha forma de permanecer no fumo da tua voz quando dizes o meu nome para a escuridão.
Eu estou ali; poderia, eu sei, ter amado a noite nos teus olhos sem desejar a fome do único dia seguinte, e então deixar-me-ia definhar só para que não viesses, de novo, salvar-me do mal. Desaparecer. As tuas mãos; uma ária cumprindo-se no meu corpo envelhecido à espera de dormir, nesse extremo momento em que uma clematite emerge do chão e, por acidente, encobre o mar do sal, emudece a pele do homem proibido. Tudo em ti se aquieta agora. Dou as costas ao silêncio, vigio o teu sono e quase não sinto a tua respiração; ainda que as minhas mãos sobrevoem como antes a tua face, ainda que a árvore anoiteça de candura a tua voz. Toda a inocência mutila os ramos da árvore mais próxima, e eu abraço, porém, o dilema e a beleza invisível do mundo, compadeço-me do anjo carnal, da sua inefável impossibilidade entre as mãos da mulher que foi incapaz de desejá-lo. De repente e para sempre. Eu sei, a penumbra cresce do fim e o céu toca os meus pés com o peso das aves desaparecidas. É impossível o calor que jaz na tua boca, mas eu hei-de aprender outra língua para amar-te, hei-de poder o fim antes do pó, a carne antes da luz. O pequeno grito antes da morte. Tu.
Entre o paraíso e um poema, prometi escolher-te.