Nos dias de hoje, já não é como noutros tempos onde era muita a quantidade de milho plantada um pouco por toda a freguesia.
O milho tinha várias utilizações, desde logo, depois de plantado e, quando começava a crescer, parte dele servia de alimento para o gado.
Nessa altura, já se plantava em maior quantidade. Ou seja, quando os grãos eram lançados à terra, essa operação já era feita de forma mais generosa, com o intuito de que uma parte das plantas, quando estivessem sensivelmente a meio tamanho, fossem apanhadas para servir de alimento para o gado.
Depois dessa primeira seleção natural, deixa-se crescer até dar maçarocas. Nos dias de hoje, tão apreciadas enquanto verdes. Aqui aproveitava-se mais uma parte do milho para ser consumido assim. Ou seja, as maçarocas ainda tenras.
Depois disso, o resto era o grosso da produção, deixava-se secar no próprio pé de milho. A partir daí, nos meses de julho e agosto, começava a apanha das maçarocas que ficavam nas plantas já secas.
O milho era apanhado e transportado em sacas ou em cestos de vindima, para uma loja ou um quarto lá de casa, onde era colocado de forma amontoada. Após a colheita, seguia-se a desfolha e a secagem ao sol.
A desfolha era uma operação demorada. Começava por norma ao final do dia, envolvendo muitos vizinhos e pessoas da zona que vinham ajudar. Uma atividade que se prolongava noite dentro e que era vivida de forma descontraída, sempre com uma contagiante boa disposição.
Enquanto as maçarocas eram desfolhadas e depois amarradas em pinhas, falava-se de tudo e mais alguma coisa, e até se contavam anedotas. Eram momentos de muita boa disposição.
Depois de afastada a folha do milho da maçaroca faziam-se as "pinhas" que depois seriam colocadas no chamado "gastalho" para secagem. As "pinhas" era um conjunto de maçarocas, amarradas pela palha o que tornava mais fácil a operação de secagem.
Tudo isto faz parte duma tradição e duma atividade em vias de extinção.
Os campos de milho estão diminuindo, quer pela força do despovoamento que vai acontecendo de forma acentuada em Santana, quer também pelo rendimento que a plantação do milho dá. O pouco que há é quase para consumo próprio.
Neste sentido, gostaria de realçar a recente recriação da desfolha que foi realizada no domingo passado em Santana. Uma iniciativa da Casa do Povo que merece ser reconhecida.
Há tradições que se vão perdendo com o tempo. É bom que exista sempre alguém que com alguma persistência, vá fazendo tudo para que aquilo que faz parte da vivência de um povo seja transmitido de geração em geração. É, sem dúvida, uma excelente iniciativa que, talvez em edições futuras, possa ser mais publicitada, no sentido de envolver maior participação dos da terra e também de quem a visita. Afirmar o milho de Santana como um produto único e de qualidade reconhecida, nunca é demais.
Foi muito interessante observar a recreação de todos os passos que envolvem a apanha, a desfolha e até a operação de esbangar. Destaco ainda o cuidado que tiveram em recriar um "gastalho" - um galho de árvore - onde colocaram as pinhas cheias de maçarocas. Apesar de tudo em alguns sítios de Santana ainda que vá sendo uma raridade, ainda dá para observar estes "gastalhos"carregados de "pinhas".