Na política, como na vida, mais cedo ou mais tarde, esse destino acaba por ditar a canção. Pedro Nuno Santos, o auto intitulado humilde rapaz, entoa, agora, parte do fado do PS. Esperemos, que não mais o do País.
Ser humano "em tudo o que isso significa, seja nas qualidades e nos defeitos, nos sucessos, nas realizações, mas também nos nossos erros", aquele que lembrou Portugal ser "neto de sapateiro e filho de empresário" quis dar enfâse às cicatrizes que carrega.
Fê-lo, quase, num exercício de introspeção, numa catarse emocional, num momento de auto-ajuda enfadonho. Fê-lo, apenas e só, para (tentar) provar, aos militantes do PS e aos portugueses, a sua "vontade de fazer acontecer e os (…) sucessos".
Vejamos alguns dos tais sucessos.
Pedro Nuno Santos esqueceu-se de lembrar à nação que a sua "vontade de fazer acontecer" custou aos portugueses 3200 milhões de euros, se falarmos da nacionalização da TAP, e mais 500 mil euros, se lembrarmos a indemnização a Alexandra Reis (decidida de forma muito peculiar, via WhatsApp). Esqueceu-se de recordar o descalabro na habitação, se lembrarmos a sua ação enquanto Ministro com a tutela ou, ainda, a paródia que foi decidir e revogar, no mesmo dia, a localização do novo aeroporto.
O problema deste e de outros socialistas que procuram, em última instância, a cadeira de Primeiro-Ministro, é que cantam um triste fado que os portugueses também carregam. E pagam.
Pedro Nuno Santos não engana. Quis passar, como se escreveu, como "herdeiro de um assalariado e filho de patrão", atestar que havia crescido "com as dificuldades das famílias trabalhadoras e com tantas desigualdades e injustiças", mas, o seu fado recorda-nos bem quem é, com quem aprendeu, quem afastou e de quem é amigo.
Pedro Nuno Santos pode ser filho de quem quiser e refugiar-se na humildade das profissões de outros, que não conseguirá, jamais, contornar o triste e asqueroso currículo de fraudulentas mensagens e ações, que, na verdade, mais não são do que um cadastro difícil de igualar.
Pode narrar a firmeza das gaspeadeiras, dizer que "o combate à corrupção constitui uma tarefa prioritária e indeclinável do Estado", garantir que não irá falar sobre processos judiciais e defender "a presunção da inocência e a independência do poder judicial", que nem uns sapatos novos lhe darão outro caminho. Nem a ele, nem ao País.