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Artigo de Opinião

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17/08/2024 08:00

“Pobre é o sujeito que mora numa cabana na beira de um lago e vai pescar. Rico é o cara que luta a vida toda, passa por cima de gente, dos escrúpulos, não dorme, toma remédios, viaja, se estressa, pra um dia ter uma cabana na beira de uma lagoa pra ir pescar.” Esta frase é de um brasileiro numa entrevista, cujo enquadramento não faço ideia, mas é um daqueles vídeos virais do TikTok.

Recentemente, ao visitar as aldeias Berberes no Atlas relembrei-me de parte da minha infância, mas, mais que isso, pensei: “era assim que os meus pais viviam, era assim que os meus avós eram felizes.” E essa frase do entrevistado brasileiro veio-me à memória.

Nas levadas, ribeiros e quedas de água eram motivos para a diversão das crianças berberes e dos adultos que os vigiavam, alguns mais novos tentavam vender colares de amoras ou algumas frutas locais. A vida é simples e todos tentam ajudar-se. O guia que nos acompanhava dizia que algumas árvores eram da comunidade e era para ajudar a todos.

Como é óbvio esta ideia e conceito bucólico de vida simplória pode parecer, nos dias de hoje, estranho e até utópico. Já que necessitamos de cuidados de saúde, necessitamos de educação e foi essas as questões que se fez ao nosso guia, também ele berbere.

À terça-feira existe um mercado, onde algumas destas pessoas vão vender alguns produtos hortícolas ou trocar por outros que não possuem e lá existem uns “médicos de Medicina Naturalista”, designemos assim, onde usam produtos como óleo de argão para fazer tratamentos, inclusivamente o guia dizia que no inverno passado tinha tido uma queda e partido o braço no esqui e foi com esses especialistas e resolveu o seu problema.

Antigamente, quem não se recorda das senhoras que davam uma massagem para o “bucho virado” e que colocavam azeite com uma folha de couve na barriga da criança que curava a criança.

Já a educação, o desânimo do guia foi chocante, pois diz que muitos berberes chegaram a enviar as suas crianças para as cidades para estudarem, contudo, poucos ou nenhum conseguiu empregos, pois não conheciam ninguém, não interessa o currículo e se eram ou não bons, em bom português: não tinham a cunha certa e voltam para o Atlas.

Quando os idosos se aposentam, as pessoas não possuem reformas, pois viveram livres e tudo o que tiveram foi para sobreviver, logo necessitam dos mais novos para os ajudar e continuar a sobreviver.

Algo que já não se vê cá na nossa terra, é crianças na rua a brincar, os vizinhos juntos a correr a brincar às escondidas, a jogar futebol, a andar de bicicleta e outros maiores a ajudar a família nos afazeres domésticos e até a “conduzir” mulas por aquelas veredas com gravilha no chão muito semelhantes às nossas.

Esta vida simples dos berberes foi das melhores experiências que tive na minha vida, mas mais importante que isso, foi mostrar aos meus filhos como era a vida há poucos anos na nossa terra, com as grandes dificuldades, mas com a liberdade de movimentos que existia.

Resta dizer, o pobre da frase supracitada é um homem livre e o rico procura a vida toda ser um homem livre. Mas sabe como os berberes se chamam a eles próprios: “Imazighen” que significa “homens livres”.

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