Todos os dias devíamos aprender alguma coisa. Ou pelo menos tentar e não ceder à tentação de demonstrar, alguns por defesa outros somente por receio, que sabemos tudo.
Os sabichões da vida são facilmente identificáveis. Dissertam sobre futilidades da mesma forma como discorrem sobre temas de interesse. Aproveitam-se de momentos e de fragilidades para influenciar a opinião pública. Têm, naturalmente, qualidades. Criatividade, empenho e oportunidade são predicados obrigatórios para cavalgar as diferentes circunstâncias com que se deparam.
Hoje, os sabichões são tantos que se torna difícil perceber quando e quem devemos levar a sério. Dificuldades que não devem inibir a discussão sobre temáticas que envolvem a comunidade, como acontece agora com a estratégia de prevenção e combate aos fogos. Convém, porém, fugir ao facilitismo de encarar as agruras da vida como um desporto e ficar a torcer por um lado só porque sim, aumentando a dormência de quem se abstrai do pensamento crítico e é apenas mais um de um vasto rebanho.
É legítimo questionar as razões que levam ao lançamento de foguetes em dias de intenso calor? Claro que sim. Mas mais do que apontar o dedo a este ou aquele grupo ou localidade, importa perceber como e porquê se autoriza que o denominado fogo de artifício se transforme num incêndio incontrolável.
É legítimo contestar a razão ou importância dos Canadair? Claro. Porque será necessário perceber efetivamente a importância destes meios e evitar julgamentos precipitados. Como parece ter sido a opção de utilizá-los, face às explicações da Proteção Civil, que admitiu ignorância sobre determinados aspetos dos aparelhos. Importa antecipar cenários e projetar soluções com ponderação. A proteção, inclusivamente das serras, merece planeamento.
É legítimo discutir o ordenamento das serras? Logicamente. Sem ignorar o trabalho que tem sido feito a este nível nos últimos anos, é preciso perceber as razões que levam a que um incêndio atravesse vários concelhos com relativa facilidade, como aconteceu agora ou em outubro do ano anterior.
Na Serra de Água, onde começou o fogo que durou 13 ‘infindáveis’ dias, é também legítimo o desconforto de quem sente e ouve o peso da crítica advinda de todos os quadrantes, alguma repleta de injustiça. Como é normal, de resto.
Mas não deixa de ser interessante refletir sobre a total ausência de contrição de alguns visados, pároco incluído. O fundamental, ao que parece, é realçar que o fogo das festas da freguesia não esteve na origem dos trágicos acontecimentos. E obviamente que não podem ser imputadas responsabilidades a quem não as tem.
Só que seria igualmente importante contribuir para a discussão sobre as consequências de uma tradição festiva que custou, só desta vez, mais de 5 mil hectares de áreas florestais que se transformaram numa extensa imensidão de cinza.
Porque se é verdade que não se tratou de fogo posto, como chegou a sugerir o presidente do Governo Regional, a catástrofe resultou de um ato consciente, que acontece um pouco por toda a ilha independentemente das condições climatéricas. É tradição e pronto.
Como também já é tradicional chorarmos sempre sobre o leite derramado, uma e outra vez.