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Artigo de Opinião

Advogada

11/04/2024 08:00

Vivemos uma época em que a relação entre Paroquianos e Sacerdotes padece do respeito e valores do passado. Dum temor reverencial exagerado passou-se a uma relação de despique, desafio e competição.

Os Padres, alguns, aproveitam seus sermões para enviar bocas à audiência, mais ou menos diretas, apimentando-os com eventos anacrónicos que a audiência, fruto, também, do aumento da escolaridade obrigatória e do fácil acesso à informação, já não deixa passar de barato.

Na minha Paróquia, a de Cristo-Rei, no Monte-Ponta do Sol, o Espírito-Santo, de que já tive oportunidade de falar aqui, era um dos momentos mais antecipados do ano pelos paroquianos. Era uma das duas alturas do ano, a par com o Natal, que as limpezas domésticas alcançavam o âmago do lar, da gaveta do fundo do guarda fatos, à erva daninha do terreiro mais remoto. Fazia parte do ritual. A seguir, no domingo destinado a cada parte geográfica esperava-se a comitiva de festeiros com doces, refrigerante e vinho, uma moedinha, uma cantiguinha pela boca das belas saloias adornadas de ouro e presilhas no cabelo entrançado de três e quatro. Este ano não há visita da comitiva do Espírito-Santo na Paróquia de Cristo-Rei, no Monte da Ponta do Sol, não me interessa saber porquê, o que sei é que muita erva daninha vai sobreviver mais uns tempos e muitas gavetas permanecerão desorganizadas, possivelmente até ao Natal.

Aqui chegada e após tanta polémica com Sacerdotes daqui e dali e de além-mar, vem à minha memória o antigo Sacerdote daquela Paróquia, o Padre João Macedo, Padre à antiga, com sermões mais eficazes para insónias que dardos calmantes para cavalos, chatos e longos, uma verdadeira penitência que me fazia dar GRAÇAS A DEUS, com tanta vontade quando dizia “Ide em Paz e o Senhor vos acompanhe”, perniciosamente só após anunciar a agenda e as intenções das missas da semana.

Padre João Macedo era maçador, antigo, de batina preta até aos pés, mas um bom pontassolense. Começou por celebrar missa no Porto Santo, acabando por décadas naquela que seria a sua última Paróquia, a minha.

Acho que não era antipático, no fundo considero que o Sr Padre João Macedo se tratava duma pessoa tímida, de poucas falas e em baixo volume.

Lembro-me de uma senhora acometida “dum mal” qualquer ter gritado que o Padre era “um cachorro”, no meio da celebração da missa, ao que ele respondeu, com a maior calma e parcimónia do mundo, se calhar do Universo: ”Os cães não têm alma”. Pois, o Sr Padre tinha alma e debaixo daquela batina com aroma de naftalina, passada a ferro Rowenta sem vapor pela caseira, uma dedicação à causa, uma dedicação ao seu mister, mas sobretudo uma descrição que o fazia ser respeitado por todos os paroquianos.

Faz-me sorrir o Sr Padre João Macedo a descer o Lombo de São João, no seu carocha ou Peugeot tipo “rancheira” para dar missa na Capela de S. João, quando a Capela ainda era de todos.

Descanse em paz Sr Padre, sua bênção.

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