Recordar é viver. Sejam boas ou más memórias, cabe tudo na aprendizagem da vida.
No livro das lembranças da infância, está naturalmente gravada a expressão: “Partida. Largada. Fugida”. Quando a brincadeira e a atividade física se complementavam, antes de o digital mudar conceitos e influenciar trejeitos.
Hoje, por exemplo, no vocabulário de uma juventude cada vez mais informatizada, dizer que o Parlamento ‘bugou’ é despretensioso. Pois há claramente uma falha que provoca um funcionamento atípico da casa da democracia. Uma espécie de bug que tem forçado o constante reset parlamentar.
Parece complicado encontrar solução para esta anomalia. Porque há quem corra (ou fuja) da oportunidade de fazer política séria. De aproveitar o ‘bloqueio’ para dar força a quem lhe confiou o voto.
Preferem, ao invés, deitar o jogo abaixo. Naturalmente que quem ‘assiste’, farto de tantas cambalhotas, torce o nariz a tudo. E até se compreende a falta de paciência de quem tem de escolher um dos lados e prefere não ir a lado nenhum. É claro que serão sempre apelidados de irresponsáveis. De não cumprirem o seu dever de cidadania. E o que dizer de quem anda sempre a mudar as regras ainda o jogo vai no início?
Estamos, por isso, numa corrida para resolver um bloqueio político que não pode, nem deve, ser encarado de ânimo leve. As terceiras eleições legislativas regionais em pouco mais de um ano não poderiam ser motivo de orgulho. Mas há quem as encare assim. Quem reclame os louros por deitar abaixo, mas também quem se prontifique a apontar ou desviar as culpas pela derrocada.
Há sempre quem nos diga que é política. Talvez. Ou talvez seja apenas uma brincadeira de políticos. Que correm atrás da utopia do melhor resultado e estão prontos para obrigar o povo a ir às urnas, vezes sem fim, custe o que custar. Mesmo que a maioria – que não se senta no Parlamento – não o queira.
Perante a falta de maturidade democrática que desune todos os ângulos parlamentares, mais vale recorrer ao tempo da “Partida. Largada. Fugida” para interpretar a crise em que vivemos. Partida.
Porque o arranque para o novo ato eleitoral já foi dado com o inédito chumbo do Orçamento Regional. Embora há sempre quem acredite numa cedência daqui, outra dali e que vá alimentando a utopia de a censura ter outro resultado. Viverá, seguramente, num mundo paralelo e não está atento à atualidade. Chamemos-lhes de otimistas, pronto. Vão certamente despertar de forma mais abrupta.
Largada.
Porque apesar de saírem todos em pé de igualdade, parece disparada a possibilidade de as distâncias que separam os partidos serem semelhantes às atuais, como demonstra a sondagem publicada pelo JM na terça-feira. O expectável, aliás, se atendermos a que pouco mudou de maio até agora. Portanto, não se vislumbram alterações ao atual quadro político.
Fugida.
Porque os partidos políticos estão cada vez mais isolados face às insanáveis divergências que apresentam e paralisam o tecido económico, afastando potenciais investidores. Não vale tudo em prol do melhor resultado possível. Às vezes é preciso apelar ao sentido de responsabilidade. E ainda perguntam por que razão as pessoas desconfiam da política?