Pobreza é humilhante.
Aqueles sem qualquer rendimento que vivenciam atrozmente a indigência, são frequentemente forçados a suportar comentários bastante ultrajantes enquanto imploram a familiares, vizinhos, conterrâneos ou compatriotas por uma tigela de sopa apenas para sobreviveram.
Tristemente, na África do Sul, segunda pátria de muitos madeirenses, a vergonha de haver fome conduziu pais a assassinarem os seus próprios filhos e em seguida suicidarem-se.
Por exemplo uma mãe de 38 anos da Vila Tholeni, na província do Cabo Oriental, no ano passado, aparentemente matou as suas três crianças e em seguida suicidou-se pela fome.
De acordo com que a polícia acredita ter acontecido a mãe envenenou as duas filhas mais novas de dois e cinco anos e o filho de 14 anos, esfaqueou-o mortalmente. Após isto deixou-se sucumbir à falta de alimentos.
Há outros casos similares infelizmente que se constataram entre outros em Witbank, província de Mpumalanga onde uma outra mãe matou quatro filhos por alegadamente lutar de forma inglória para cuidar das crianças financeiramente.
São pessoas indigentes que esmolam desesperadamente por comida para sobreviver ou vasculham nos caixotes do lixo e nas lixeiras para se alimentarem.
É para mim torturante tomar conhecimento da existência destes casos em que mães e pais na África do Sul de hoje, ou seja, após trinta anos da incoação da democracia, que pais se vejam compelidos a interromper as vidas dos seus filhos e a suas próprias por causa da indigência abjeta em que se afundaram e que ilustra a crueldade profunda e o estigma associados à indigência.
É crime, quanto a mim, consentir que os mais vulneráveis se sintam eremitas para além de serem desvalorizados pela sociedade.
A fome e o desespero geram comportamentos perigosos e é notório que pessoas aguardam a passagem de automóveis e por vezes o abrandar da velocidade para se atirarem contra veículos em movimento de forma a serem feridas e para posteriormente reivindicarem indemnizações do esquema Fundo de Acidentes Rodoviários.
Dessas pessoas algumas morrem no local do acidente devido aos impactos ou acabam por perecer em consequência dos ferimentos sustidos e outras confinadas para sempre a cadeira de rodas ou com lesões permanentes de convalescença quase impossível. Tudo tentativas para obter umas “coroas rápidas” para pôr pão na mesa.
O objetivo é obter do Fundo de Acidentes Rodoviários indemnizações, excetuando, se se provar que os beneficiários foram autores do seu próprio infortúnio.
É uma situação de limite face aos casos extremos da fome, miséria e doenças que algo desta natureza e desnecessariamente aconteça num país que dispõe de excelentes recursos em todas as vertentes para colmatar estas situações de fome e miséria absolutamente ignóbeis, país que é considerado o celeiro de África.
A nossa comunidade faz também face a enormes desafios a começar pelo desemprego, encerramento de vários negócios, envelhecimento, doença, falta de assistência médica e medicamentosa e surgiram desde algum tempo a esta parte casos de absoluta indigência e outros que afloraram em tempos mais recentes.
Valha a boa vontade de alguns clubes, associações, tertúlias e individuais que substituem o Estado sempre que lhes é possível e prestam ajuda.
Em abono da verdade se diga que nos meses mais recentes, verificou-se a subida em apoios por parte do Estado junto aos mais carenciados da comunidade assim como apoio financeiro e a extinção das propinas dos cursos de ensino da língua portuguesa foram motivo de esperança e júbilo na comunidade que para além do auxílio servem de aproximação a Portugal e às suas Regiões Autónomas que por vezes se manifestam distantes.