Em cada canto, em cada espaço, conquistamos um pouco do mundo. E lá deixamos um pouco de Nós.
Um povo nobre, que sempre se ergueu, com força e resiliência para passar tempestades e gerir a bravura das ondas da vida, mas que por vezes teima em tropeçar no mesmo seixo.
Camões, poeta que se eternizou nas nossas vidas, e que hoje é especialmente recordado, também falava sobre o desconcerto deste nosso mundo:
"Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos."
Bem se diz que o "essencial é invisível aos nossos olhos", e que muitas vezes o mérito nem sempre fala mais alto. Num mundo fogaz, onde a vida é consumida em poucos segundos, onde quase não se habita o presente, usufruindo pouco do caminho, faltam-nos muitas vezes as coordenadas de um rumo certo.
Ser "rufia" na vida será sempre mais uma vantagem do que um fracasso? Será mesmo assim? Serão estes "maus" os que recebem o maior dos doces para se contentarem, porque os "bons", esses não fazem estrago e podem esperar? Também acontece muito...
Ninguém concordará com isto. Mas o mundo também não será só isto.
Falta-nos descobrir e fazer crescer o essencial, dando-lhe visibilidade. Ver o que nem sempre nos salta a vista, ouvir alguns silêncios que falam, dar mais luz ao que por vezes se esconde atrás de algumas sombras.
Falta-nos saber Ser.
Sem receios, Ser-se quem se É, será sempre a melhor forma de vivermos em sintonia, conseguindo revelar o melhor de qualquer um de Nós. Muitas vezes, será na procura de uma "figura" esperada pelos outros, que as pessoas se perdem de Si, deixando cair por terra características únicas e essenciais.
Não se destacar de Si próprio, integrando em caixinhas diferentes, o melhor e o pior dos outros. Tornar visível o essencial, distinguindo sempre quem sabe Ser, de quem apenas sabe Parecer.
Assim, num mundo com alguns atropelos, por entre alguns socalcos, saber seguir e olhar o caminho, poderá evitar tropeçar muitas vezes na mesma pedra.
Dizem que não basta Ser.
Porque o que é mesmo preciso, é saber Ser.
A vida não tem um ensaio geral, segue e só podemos vivê-la no presente.
Com as coordenadas certas, acompanhados e de olhos postos no caminho, no presente rumo a um futuro, todos poderemos ser parte do (des)concerto do mundo.
O nosso mundo.
Feliz dia de Portugal!