O Cardeal Tolentino em Fátima alertou no mesmo sentido. De facto, o COVID apanhou-nos impreparados para uma doença deste tipo, não só nas estruturas de saúde e nos efeitos económicos da paragem obrigatória, como em especial na nossa conceção de vida. Parece que agora é necessário olharmos de forma diferente para o sector da saúde e para uma certa irresponsabilidade coletiva que se associava à liberdade individual.
Houve quem julgasse que o Seculo XXI seria o triunfo da autossuficiência do homem, à beira da conquista de uma longevidade sem par, de um efetivo controlo da doença fatal e da irradicação da fome. As capacidades humanas na Ciência e na Técnica pareciam ter posto as fragilidades e as fatalidades do passado definitivamente arrumadas na História.
Não foi assim! Embora seja de louvar a rapidez com que se descobriu a vacina e o esforço titânico com que se evitou uma mortandade mais expressiva, a verdade é que não somos super-homens e a necessidade de olharmos para o outro, a solidariedade entre comunidades e intergeracional tornaram-se vitais da há dois anos a esta parte.
Mas se há um aspeto que começa a desenhar-se e que me parece ainda imprevisível nas suas consequências, é a intensidade e a dimensão da intervenção estatal. A angústia do empresário, do trabalhador, do familiar e do doente foi canalizada para o apelo ao sector público, como se fosse o único que podia atender e até salvar. Compreendo essa necessidade e a intervenção subsequente que, em termos gerais, na Europa, evitou calamidades mais graves.
O problema é que o Estado quando intervém, raramente recua. E a sua ajuda normalmente sai cara porque penaliza injustamente as gerações vindouras. Bastará pensar nos recursos que serão necessários para pagar a divida que foi e vai ser contraída (a portuguesmente denominada BAZUCA é também divida publica, embora disfarçada!) para nos preocuparmos com as consequências para a capacidade exaurida do contribuinte. Também de forma acentuada o crescimento da administração pública, no Continente como na Madeira, no número de colaboradores e nos meios financeiros necessários para a manter, anunciam épocas muito complicadas.
Com uma economia debilitada e a necessitar de um longo período de transição que será dolorosa para muitas pessoas, ver o sector publico a crescer da forma como recentes números o atestaram, é um fator de extrema preocupação para um futuro muito próximo. Não vejo como se conseguirá pagar a estrutura crescente e a responsabilidade que se transferiu para o Estado!
Neste sentido, a palavra do Papa também deve ser interpretada para que assumamos a nossa parte, na vertente da solidariedade que cabe a cada um de nós. A melhor lição que podemos tirar do COVID é exatamente essa: não nos passou ao lado nem foi matéria que possamos entregar às portas da Administração Pública, eximindo-nos de agir!
Pelo contrário, num Mundo que cria mecanismos que facilmente irresponsabilizam, chutando para as instituições públicas tudo e mais alguma coisa, seria bom promover a cultura da responsabilidade tal como houve a preocupação de incentivar o civismo nos comportamentos de distanciamento e sanitários. Substituir o aparente sossego que a avalanche pública no nosso dia-a-dia cria, pelo empenho de todos no devir coletivo seria sem dúvida uma boa lição para o Pós-Covid.