Segundo a economia convencional, somos todos seres racionais. No nosso dia-a-dia, calculamos o valor de todas as opções disponíveis e depois optamos pelo melhor curso de ação. Se nos enganarmos, as forças de mercado abatem-se sobre nós e devolvem-nos o caminho da racionalidade. É com base nestas suposições que, desde Adam Smith, várias gerações de economistas deduzem importantes conclusões sobre quase tudo, desde os impostos que pagamos à determinação dos preços de bens e serviços. Até aqui tudo bem… num conto de fadas.
No mundo real, somos bem menos racionais do que a economia tradicional pressupõe. Além disso, os nossos comportamentos irracionais não são nem aleatórios nem destituídos de sentido. São sistemáticos e, como repetidos vezes sem conta, são previsíveis. Assim sendo, a economia não faria muito mais sentido se se baseasse na forma como as pessoas realmente se comportam, em vez de como se deveriam comportar? A esse campo emergente dá-se o nome de economia comportamental. Esta área de estudo ajuda a explicar, por exemplo, porque a satisfação salarial de um homem pode depender do facto de ganhar mais do que o marido da irmã da sua mulher, de acordo com o princípio da relatividade. Ou porque é que gostamos de fazer determinadas coisas, como oferecer um jantar ou ajudar um vizinho nas mudanças, mas não quando somos pagos por isso, explicado pela difícil conciliação entre normas de mercado e normas sociais. Ou então porque persistem as dores de cabeça quando tomamos uma aspirina barata, mas elas passam quando optamos por uma mais cara, graças ao poder do preço que aciona mecanismos de condicionamento e o chamado efeito placebo, através do poder da sugestão. Mas poderíamos falar ainda do sentimento de posse que nos leva a sobrevalorizar o que possuímos ou do efeito das expectativas que leva a nossa mente a obter o que espera.
São muitas as forças em campo, mas o que podemos concluir é que somos todos peões num jogo cujas forças estamos longe de compreender na totalidade. Gostamos de nos ver no lugar de condutor, com total controlo na direção da nossa vida, contudo essa perceção corresponde mais aos nossos desejos do que à realidade propriamente dita. Existem forças que influenciam o nosso comportamento, que geralmente subestimamos ou pura e simplesmente ignoramos. Não obstante, elas afetam-nos a todos de forma sistemática e previsível, não significando por isso que somos fracos, mas que estamos limitados aos instrumentos que a natureza nos dotou e o modo natural como decidimos é limitado pela qualidade e precisão desses mesmos instrumentos. Contudo, apesar da irracionalidade ser a norma, isso não implica que estejamos indefesos. Depois de nos consciencializarmos da forma como tomamos as nossas decisões, podemos ser mais vigilantes, forçando a uma melhor análise e utilizando ferramentas para superar as nossas limitações.
Como certa vez escreveu Sendhil Mullainathan em tom de ironia: "Janeiro é sempre um bom mês para a economia comportamental: poucas coisas ilustram tão vividamente o autocontrolo como as resoluções de Ano Novo. Fevereiro é ainda melhor, porque nos permite estudar a razão pela qual tantas dessas resoluções são quebradas."