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Artigo de Opinião

Presidente da Câmara Municipal de Porto Moniz

13/03/2024 08:00

Os madeirenses em geral e os socialistas em particular sabem que, ao longo dos já mais de 30 anos de dedicação à vida política que somo, só muito excecionalmente falei publicamente sobre a situação do meu partido. Desde que liderei o PS e contribuí, com muitos outros camaradas, simpatizantes e eleitores socialistas, para obtermos alguns dos melhores resultados da nossa História democrática, incluindo a retirada, pela primeira vez, da maioria absoluta ao PSD-Madeira, apenas por uma vez furei esta regra, na sequência da demissão de Paulo Cafôfo da liderança do PS. Abro hoje uma nova exceção, porque o momento político que a Madeira vive, especialmente grave, assim o exige.

Nas eleições legislativas de domingo, o PS-Madeira obteve o pior resultado de todo o país e, para além da CDU, foi o único partido na Madeira que perdeu votos em relação a 2022, mais de 10 mil, apesar dos mais 22 mil eleitores que acorreram às urnas. Desde então, ouvi e li as mais estapafúrdias explicações e contas eleitorais. Para alguns, o resultado do PS na Madeira justifica-se pela “onda de direita” que varreu o país, apontando para a “conjuntura nacional” e para o “desgaste da governação” da qual Cafôfo ainda faz parte como as causas de mais um brutal insucesso eleitoral na Região. Sejamos sérios: o PS-M não só registou o pior resultado de todo o país, como ficou 9 pontos percentuais abaixo do todo nacional. Por motivos incompreensíveis, os dirigentes do PS decidiram ignorar por completo o contexto regional: um caso judicial que derrubou o Presidente do Governo e da Câmara do Funchal; um Governo Regional em gestão; uma coligação entre PSD e CDS que foi a votos, mas já não existia; uma disputa entre dois candidatos à liderança do PSD; e um CDS sem liderança. Não é coisa pouca, mas pelos vistos parece.

Os atuais dirigentes do PS parecem mesmo acreditar que as suas escolhas não tiveram qualquer relação com os resultados. Que o discurso judicialista que adoptaram na sequência dos casos que abalaram a Região não teve influência. Que o afastamento de Carlos Pereira da lista da Madeira, ao contrário do que aconteceu em 2019, mesmo depois de ambos termos disputado a liderança do PS, nada teve a ver. Que incluir na lista Miguel Iglésias, com quem manifestamente os madeirenses não se identificam, também não. Que a ausência de qualquer tentativa de integrar todas as sensibilidades nos órgãos do partido, também não. Que terem feito campanha com base na candidatura de um homem só, candidato à Assembleia da República e ao Governo Regional em simultâneo, também não.

Façamos um pequeno exercício de memória: em 2019, quinze dias depois de perdermos as eleições regionais, o PS foi capaz de, ainda assim, eleger três deputados e obter o seu segundo melhor resultado de sempre - apenas superado pelo da maioria absoluta de 2005. Conseguiu fazê-lo porque foi capaz de unir em vez de excluir, como agora se fez. E conseguiu também porque o segundo candidato dessa lista venceu, pela primeira vez fora de autárquicas, eleições pelo PS no seu concelho: o Porto Moniz. Comparemos com o que agora aconteceu, em que a terceira candidata da lista ficou em terceiro no seu concelho.

Domingo confirmou-se uma tendência: o PS continua a ganhar eleições em Machico, onde é poder, e a obter o segundo melhor resultado no Porto Moniz, com uma votação em linha com o todo nacional e com mais 9% do que o resultado regional. Alguém achará que é por acaso? Ou será que aqui o “efeito de contágio” não conta? E também terá sido por acaso que o PS venceu apenas em freguesias destes dois concelhos? Não terão algum mérito os seus autarcas e estruturas locais?

Chegados aqui, o PS-Madeira tem duas hipóteses para o futuro: continuar o que fez desde a noite de domingo, ignorando o evidente e entretendo-se com justificações e aritméticas risíveis ou ouvir o que os madeirenses dizem e compreender que é preciso corrigir caminho. Os madeirenses não nos perdoarão se, perante a oportunidade de mudarmos o poder na Região, formos novamente incapazes de apresentar a melhor alternativa possível às próximas eleições. Uma alternativa que replique o melhor de 2019: que agregue em vez de afastar; que inclua os nossos melhores em vez de excluir; que tenha representatividade e dinâmica local; que apresente renovação geracional e que tenha credibilidade junto da sociedade civil.

O tempo é agora e cabe a cada um de nós fazer os possíveis e os impossíveis para que a mudança se concretize. O meu contributo está dado: um alerta, enquanto ainda vamos a tempo.

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