Esta é aquela altura do ano que, no que toca a emoções, não deixa ninguém indiferente. Época adorada por muitos, mas, ao mesmo tempo, símbolo de saudade e de nostalgia para outros.
Certamente, esta forma tão diferente de sentir o Natal articula-se com as vivências e circunstâncias de vida de cada um, com o significado que se atribui a esta quadra e com as palavras e significados que nos foram sendo transmitidas ao longo dos tempos.
Pensar neste Natal que hoje vivemos - tempos difíceis, de grande incerteza e imprevisibilidade devido à "guerra" que atravessamos - trouxe-me à memória as histórias e peripécias natalícias que a minha avó contava…
Nos anos 50, na cidade de Machico, a minha avó esperava ansiosamente pelo dia 25 de dezembro, o dia da Festa. O Natal, sendo vivido por toda a família, era a época tão festejada e tão desejada em qualquer região de Portugal, tal como na Pérola do Atlântico. Todos viviam "obcecados" pela ideia da euforia do Natal: as crianças e os jovens, ansiosos, contavam os dias para a chegada da Festa; os adultos e os chefes de família, tudo preparam para que nada faltasse nesta alegre quadra; e não esquecer a preparação do repasto natalício, servindo os pratos tradicionais, como a famosa carne de vinho e alhos, juntamente com as semilhas, as torradas e o pão; o assado de carne de porco com as batatas douradas e o cuscuz e as iguarias e os bolos típicos madeirenses.
Neste dia, a minha avó e os seus irmãos aguardavam ansiosamente para abrir os seus presentes. E todos os anos, não fugia a regra, recebiam a mesma oferta: um apito e um balão. Vibravam de alegria quando abriam o presente. Adoravam aquela prenda. E mal podiam esperar para brincarem todos juntos com o apito e o balão. Mas, inexplicavelmente, BOOM! O balão arrebentava pouco tempo depois! Durava minutos o que para uns era um desgosto. No entanto, isto não impedia que a brincadeira continuasse. E prosseguia… Convidavam familiares, vizinhos e amigos e a Festa durava dias e dias. Era uma verdadeira alegria e euforia pela casa!
Os anos passaram e para trás ficou a infância e as recordações de um outro tempo. Todos os anos, a minha avó conta esta mesma história e vejo o brilho de felicidade no seu olhar ao viajar ao passado e recordar o apito e o balão… Ao seu tempo de criança e de infância… e a uma outra época. Mas, por outro lado, vejo um olhar melancólico, ao se lembrar dos seus familiares que já não se encontram entre nós.
Estas memórias não são minhas, é certo, mas acredito que serão certamente partilhadas com muitas outras pessoas. Porque falo de memórias de outros tempos, talvez até conturbados e difíceis, por um lado, mas muito alegres e felizes, ao mesmo tempo.
São memórias de tempos parcos, onde as palavras "Natal" ou "Festa" não rimavam com abundância ou riqueza. Não existiam consolas ou telemóveis, mas sim convívio, animação, risos e gargalhadas entre todos, sem exceção.
Este ano, nesta época natalícia e nestes tempos duros que vivemos, decidi partilhar estas lembranças da minha avó… histórias e peripécias de tempos que parecem tão distantes. Mas não são.
Todos nós temos uma história caricata de Natal… algo marcante ou tradicional, um modo de estar e sentir diferente, mas que que retratam a nossa Ilha da Madeira. Basta procurarmos no nosso baú de tesouros para reviver momentos que se encontram ainda esculpidos na nossa retina!
Feliz Natal!