César Mourão, Gustavo Miranda e Carlos M. Cunha regressam à Madeira, nos dias 1 e 2 de novembro, com a promessa de fazer rir o público madeirense. O argumento é baseado na prerrogativa de que “não há música sem silêncio, como não há comédia sem tragédia”. Neste contexto, o que não tem faltado em solo regional são momentos trágicos para mais uma mão cheia de espetáculos.
Algumas temáticas ainda não dão para rir. Mas podiam. Até pelo facto de parecer que o importante, na maioria das vezes, é procurar fugir à responsabilidade e empurrar a resolução do problema para o vizinho. Num ápice, apercebemo-nos de que a Madeira está repleta de contorcionistas, exímios na arte de contornar as questões em vez de abordá-las. Forma de estar e de ser que dá muito jeito para passar pelos pingos da chuva, mesmo em dia de trovoada.
Na Madeira de hoje os profissionais de psiquiatria estão atolados. A maioria dos doentes sofrem recaídas. Um processo normal, segundo Eduardo Lemos, que faz parte do caminho para a recuperação. Desenganem-se, todavia, os que pensam – vá lá que são cada vez menos – que os internamentos só acontecem aos outros. Normalmente pessoas de poucas posses ou consumidores de estupefacientes. Errado.
Falta saúde mental a muito boa gente. Jovens estudantes, homens ou mulheres com empregos estáveis, etc., não há um claro estereótipo para definir quem ocupa as camas de psiquiatria. Precisam de ajuda, pronto, independentemente de ser por este ou aquele motivo. E merecem ser ajudados e não discriminados.
Bem discriminados devem ser os sem-abrigo que se fazem acompanhar por animais de estimação. Porque nem todos tratam mal os bichos. Alguns, garante quem os acompanha, até partilham o comer com o cão. Outros, no entanto, encaram-nos como uma oportunidade de negócio. Como uma forma de financiamento para droga. Fazem-no sem problemas, à vista de todos, e ninguém atua. Ninguém faz nada, como denunciou ao Jornal a ANIMAD. Porquê?
A semana que agora finda constitui, de facto, um desafio à forma como olhamos para as tragédias dos outros. E pode servir também de lição para quem entende que o narcotráfico se apresenta como uma solução para um futuro mais abastado.
A PJ realizou a maior apreensão de heroína da história da Madeira. Deteve um indivíduo em flagrante delito. Que não deve atuar sozinho... A PSP apanhou mais dois jovens pelos mesmos motivos.
Na Indonésia, o pesadelo de Rui Viana, madeirense que transportava cocaína, também continua. Ficou a saber que vai ter de cumprir uma pena de 13 anos e meio de prisão. Mesmo arrependido. Mesmo depois de ser pai há cerca de duas semanas. Mesmo com o acompanhamento ininterrupto dos seus amigos e familiares. Não tem atenuantes nem perdão. Mas, ao menos escapou à pena de morte, também prevista no país para crimes semelhantes.
Que o Rui Viana possa servir de exemplo para outros, como ele, que arriscam tudo para ganhar conforto de pouca dura. Mais vale olhar para o que podem perder e não no que vão ganhar. Porque o ganho é de pouca dura. E os anos perdidos irrecuperáveis.