E chegamos a 2025. O mundo continua a girar com à mesma velocidade, mas as preocupações parecem multiplicar-se com uma rapidez estonteante. Da inteligência artificial à crise climática, passando pela geopolítica volátil e as desigualdades persistentes, os desafios são muitos e variados. Em Portugal, e em especial na Madeira, não escapamos a esta corrente global de inquietações, embora a nossa versão do caos venha sempre temperada com uma pitada de “seja o que Deus quiser” e acompanhada de uma bica curta.
Por cá, as flores continuam a desabrochar, mas não é só de primavera eterna que vivem os madeirenses. Em 2025, a luta contra as alterações climáticas não é uma questão de futuro longínquo; é um problema presente, sentido nas cheias mais frequentes e nos verões mais longos. Enquanto se debate com incêndios florestais e escassez de água, a Madeira tem ainda de lidar com a subida do nível do mar e as pressões turísticas cada vez mais intensas. Quem diria que o turismo de cruzeiros, outrora celebrado, se tornaria uma dor de cabeça logística e ambiental?
Outro grande desafio em 2025 é a economia. Portugal continua a ser o país do “amanhã fazemos melhor” e da eterna esperança de que os fundos europeus resolvam todos os males. A inflação já não é o monstro assustador que era em 2023, mas deixou as suas cicatrizes, com o custo de vida ainda elevado e os salários teimosamente tímidos. Na Madeira, a situação é semelhante, mas amplificada pelo custo acrescido de importar bens essenciais. A banana pode ser nossa, mas o resto vem de fora e não vem barato.
Entretanto, os jovens portugueses enfrentam a precariedade com um humor invejável e uma criatividade sem limites. Se há algo que não falta em 2025, é a proliferação de “startups disruptivas” que prometem mudar o mundo com uma app qualquer... embora na prática a maioria acabe a desenvolver soluções para pedir comida mais rapidamente.
Ah, a tecnologia! Em 2025, a inteligência artificial é tão omnipresente que até nos lembramos com saudade dos tempos em que o maior perigo digital era receber chamadas de números desconhecidos. O ChatGPT tornou-se o melhor amigo de estudantes e procrastinadores, enquanto os carros autónomos ainda insistem em não saber estacionar em Lisboa.
Na Madeira, há quem receie que o avanço tecnológico leve à perda de empregos tradicionais, mas também há quem veja nisso uma oportunidade de ouro. Afinal, se uma ilha conseguiu adaptar-se ao turismo de massa e reinventar-se como destino de nómadas digitais, o que nos impede de nos tornarmos também uma espécie de “Silicon Valley subtropical”?
Em tempos de globalização desenfreada, manter a identidade cultural é um verdadeiro ato de resistência. Em Portugal, ainda nos agarramos às sardinhas, ao fado e à saudade, enquanto no Funchal se continua a brindar com poncha e a celebrar o Carnaval com a exuberância de quem sabe que a vida não é só trabalho. Mas será que conseguimos preservar o essencial, sem nos tornarmos uma caricatura turística?
Em 2025 o desafio é encontrar o equilíbrio entre honrar a tradição e abraçar a modernidade. Não podemos ser apenas o país das ruas de calçada bonita e dos pastéis de nata. Precisamos de ser um lugar onde o futuro tenha espaço para crescer, sem esquecer o que nos torna únicos.
Talvez o maior desafio de todos seja superar a nossa tendência para o pessimismo descontraído. Gostamos de reclamar, mas raramente agimos. Preferimos remediar a prevenir. Em 2025, o mundo exige rapidez e eficácia, e Portugal ainda está a aprender a lidar com essas exigências. No entanto, há algo que nos diferencia: a resiliência e a capacidade de encontrar humor nas piores situações.
Na Madeira, essa resiliência é quase genética. Habitar uma ilha no meio do Atlântico ensinou os madeirenses a resistir, a improvisar e a não esperar que alguém de fora venha resolver os seus problemas. Afinal “se o mar está bravo, remas mais forte. Não ficas à espera que ele acalme”. Algo que alguns dos nossos atores políticos se esqueceram, preferindo vender a sua alma à capital do império, à espera do dízimo do senhor.
Em 2025 enfrentamos desafios enormes, mas se há algo que a história nos ensina, é que sempre soubemos encontrar uma saída — mesmo que fosse para o outro lado do mundo, em busca de novos mundos por descobrir. Num mundo onde os Trumps, Putins e Venturas vão ganhando protagonismo à custa dos tradicionais políticos encarreirados e da insatisfação popular, quem sabe se no nosso calhau a meio do Atlântico, entre uma poncha e uma bica, não conseguimos fazer de 2025 o ano em que finalmente começamos a remar juntos, na mesma direção?...