Aproximam-se a grande velocidade as eleições legislativas. Até lá um Oceano político se produzirá, mas é importante notar, do ponto de vista eleitoral, qual o grande handicap da nova AD. Na última década, a mediana etária dos eleitores aumentou 10 anos. 1/3 dos jovens, com particular incidência nos mais qualificados, saíram do país. Jovens plenamente inseridos no mercado europeu e global, nativos das tecnologias e duma sociedade em que a atividade laboral é liberal, evolutiva, e atenta às oportunidades. Cidadãos com profundas preocupações ambientais, sociais e dos direitos civis, mas conscientes que a comodidade, liberdade e oportunidades que gozam advém do sistema capitalista, das democracias liberais, e de um equilíbrio cuidadoso, mas não censório, entre público e privado. Acontece que estes portugueses não vão votar, na sua esmagadora maioria. Porque o nosso triângulo atlântico é muito pequeno para os seus horizontes, pelo menos nesta fase das suas vidas. Votariam estas pessoas em partidos e líderes sequiosos da (re)nacionalização de empresas falidas? Em quem defende menor flexibilidade laboral? Em quem obriga a usar os serviços públicos, mas sem o devido investimento? Claro que não. Também não votariam, porém, em populistas levianos. Estes eleitores caem como uma luva no (novo) eleitorado ancora do PSD -CDS, bem como, admitamos, da IL. Não devemos ter medo em assumir que o perfil do eleitor está envelhecido, preocupando-se este, maioritariamente, com a sua segurança pessoal, com o valor da reforma, e com a defesa, tão natural como a sua idade, de temas conservadores. E é aqui que se tem baseado tanto a força do PS de Costa como o crescimento do CHEGA. Mas vão existir mudanças. Os 30% de eleitores com mais de 65 anos nos cadernos eleitorais dificilmente votarão, maioritariamente, no PS de Pedro Nuno. Existirá uma transferência para o partido de Ventura que, avançando com um discurso que pede meças ao PCP e ao BE, promete subida de reformas não contributivas para o nível de um salário mínimo que o próprio propôs que se situasse em 2024 nos 900€. E quem pode criticar os nossos idosos se estes estiverem menos motivados em fazer as contas e perceber que o défice da segurança social seria antecipado em 10 anos, o que, aliado a promessas estapafúrdias e gratuitas como o fim do IMI, IUC, IVA 0% definitivamente nos bens essenciais (imagino que inclua o vinho tinto, que alimentava 1 milhão de lusos no tempo do Dr. Salazar, mas o pão com bolor e outras delícias gastronómicas) e nos produtos de fabrico português(!!!), mais 6% na restauração, como prometeu Ventura na sua Convenção, só faltando, e lá chegaremos, oferecer um rolex (versão CR7/Luan Santana) a cada português, mais uma casa com piscina aquecida, umas férias nas Malvinas e 7 virgens após a morte, nos levariam para a pior das bancarrotas!
Ventura que, acrescente-se, redefiniu o conceito de contas de merceeiro, dizendo que o OE (que contem muitas idiotices, acrescente-se) previa “426 milhões para a igualdade de gênero” e “20 mil milhões para a corrupção”, e que cortando nisso, e nas despesas dos Ministérios (os funcionários públicos trabalhariam em regime de escravidão, por certo) pagaria o buraco ao nível de um aeroporto de Alcochete anual. É certo que no OE há medidas boas (habitação para vítimas de violência doméstica) e outras woke, como no Art. 15ª, onde se induz os Orçamentos dos serviços destinarem uma verba para a “perspectiva de gênero”. Partir daí e ... “chegar” aos 426 milhões, ou é mitomania, ou pouco tabaco na reunião do partido extremista. E que dizer dos “20 mil milhões para a corrupção”? Ela existe? Claro que sim! Tem impacto no PIB, certamente segundo entidades confiáveis. Mas não está numa rúbrica do Orçamento (faltava que estivesse!), é uma estimativa, e não é, com toda a certeza, dinheiro exclusivo do Estado (em formato tributável). Os valores que são medidos afetos à corrupção, são de proveniências e destinos heterogéneos, complexos, cujo impacto existe, que deve ser ferozmente combatido, mas não é uma linha de excel. Ou seja, não estão provisionados no Orçamento. nem tem um destino conhecido. Qual é a morada da dona “corrupção” para enviar estes 20 M milhões, SFF?
Mas é curioso que Ventura, quando utilizou o futebol para ser tornar conhecido, estava menos sensível ao tema. Ignorou ou desculpabilizou, os 460 milhões de exposição de Luís Filipe Vieira ao BES, as perdas diretas de 225 milhões, a compra duma dívida sua de 54 milhões por um sexto do valor, os 23 milhões de alegada burla ao BPN, os 24,5 milhões que ficou a arder na CGD... enfim... Ventura não conta certamente com esses valores para os tais 20 mil milhões, pois a sua narrativa foi sempre outra. Claro que este é um terreno sensível, pois o Futebol cega-nos. Mas Ventura é demasiado inteligente para tolerar, e até desculpar, estes escândalos apenas por amor pelo seu Benfica. Como eu não desculpo.