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Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

22/10/2024 08:00

Os olhos são os mesmos. O que se vê, não. Depende das lentes com que a vida (ou o coração) veste o olhar. Depende do véu com que cobrimos o que nos rodeia. A gramática que nos permite ler o que vemos tem regras pouco rígidas e deixa-se contaminar por mil coisas, perturbando a nossa perceção da realidade. O que nos perturba (nem sei se é esse o verbo para esta ideia) nem sempre é óbvio, ou claro ou certo (que, aqui, neste contexto, não se assume como antónimo de errados, porque nestas coisas...)

[-Que dia lindo...

- Porquê? Só porque está sol? E se estivesse a chover não era lindo também?]

Pois é. A perceção da vida depende do momento em que a olhamos, ou sentimos com o nosso olhar. Vejam, por exemplo: há dias em que os pássaros desenham notas nos fios da luz e até se percebe as pausas nas melodias que ficam escritas, quando olhamos para o céu; outros não – são apenas pássaros à espera que a rua se dispa para a virem habitar (ou sujá-la, ou suicidar-se debaixo dos carros); há dias em que as ondas batem em fúria, contra as rochas e nos impedem de sossegar; outros em que despenteiam os calhaus e neles depositam saudades de fora.

É assim: somos luz e sombra, poesia e desencanto, futuro ou desistência. E isso não deve ser necessariamente mau. Como é que a beleza nos embriagaria se não conhecêssemos o horror? Como é que a luz nos alegraria se não soubéssemos que; às vezes, as noites doem? Como é que apreciaríamos o silêncio se nunca nos tivéssemos sentido esgotados de ruído?

Nós somos os mesmos. O que vemos, não. Depende do modo como nos deixamos habitar pelo que está à nossa volta. Depende do valor que damos ao que cresce em nós, ao mesmo tempo: o trigo e o joio, o bem e o mal, a coragem e o medo.

Somos assim: humanos e divinos, santos e pecadores, montanha e abismo, gente e poetas. É por isso que a nossa perceção do mundo muda. Exatamente como a nossa imagem no espelho: ora reflete o que, em nós, é poeira de luz, ora, o que é apenas barro. Exatamente como a imagem que vemos das coisas e dos outros. Na verdade, pouco nos resta senão aceitar. Somos assim. Diferentes. Iguais.

[-Que dia lindo...

- Porquê? Só porque está sol? E se estivesse a chover não era lindo também?]

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