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Artigo de Opinião

3/02/2022 08:00

A maioria de nós cresceu com pai e mãe, e na maioria dos casos o pai é que mandava. A mãe parecia que mandava em casa, mas isso só era permitido porque o pai não queria essa tarefa.

Por isso, a maioria dos portugueses acha que só um a mandar, de preferência homem, é sinónimo de estabilidade em casa.

Quem não se deixa mandar, ou manifesta a sua opinião, debatendo as decisões, é visto como imprevisível, conflituoso ou chato. A paz parece estar associada ao silêncio pela autoridade. Sinto que a maioria defende uma paz, que mesmo podre é melhor que a guerra. Será?

A verdade é que partilhar decisões dá muito mais trabalho do que decidir sozinho, mas é o modo mais adequado para viver nos dias de hoje. Em democracia é obrigatório ouvir os outros, mesmo os que dizem coisas que não concordamos!

Afinal os homens e as mulheres não se medem pela altura da voz de comando, medem-se pela capacidade de ouvir e decidir em conjunto.

Ainda há pouco tempo vivíamos numa ditadura, onde falar era ofensivo, era crime. Ainda acho que isso está dentro de nós. A minha geração cresceu a ouvir: É melhor estar calado do que irritar alguém! Podes sofrer represálias!

Porque na verdade é isso que acontece no confronto com homens e mulheres pequenos. Ficam irritados e fazem de tudo para calar as pessoas que as/os questionam. Melhor calar?

Temos neste momento maioria absoluta, temos REI. O pai voltou a mandar em casa e a fazer o que quer. Provavelmente vai até dividir tarefas com os restantes, mas apenas aquelas tarefas que não gosta de fazer. Estamos a facilitar a vida ao poder absoluto, porque achamos que isso é defender a estabilidade, quando a história já nos mostrou o perigo que é o poder absoluto!
Este perigo surgiu sob a forma do voto útil. Votar útil por isto e por aquilo. A explicação do voto útil é a medida de quem a prescreve, como se votar no partido que acreditamos seja inútil.

O voto dito útil é um ato completamente emocional, sem o uso da nossa racionalidade e inteligência. Na maioria dos casos, o voto útil é para evitar algo que temos medo apostando/arriscando em algo que à partida nos vai dar alguma segurança, ou pelo menos não nos vai piorar a "vidinha".

Infelizmente, o voto útil é defendido pela maioria das pessoas, até por partidos. Para umas coisas queremos racionalidade, se calhar na escolha do parceiro ou parceira, mas para escolhas tão importantes como a eleição da Assembleia da República publicitamos comportamentos emocionais sem racionalidade.

Os partidos mais pequenos estão lentamente a desaparecer, um já desapareceu, crescem outros partidos, mas se não se mudar nada também irão a seu tempo desaparecer.

No voto útil não interessou o comportamento dos partidos fora da bipolaridade PS e PSD, a redução notou-se tanto nos partidos que "casavam com qualquer um" como nos partidos que "só casam com contrato escrito assinado e sem letras pequenas".

Sou contra maiorias absolutas! O resto do Parlamento não tem poder sobre o PS. Nada precisa de ser negociado. Talvez porque cresci numa região que desde o 25 de abril esteve quase sempre na maioria absoluta com o "quero posso e mando". O novo governo pode ser o que quiser. Temos REI.

Votei com racionalidade e sem medo no BE, fui também candidata. Mesmo sem o poder de negociação estaremos a trabalhar para voltar a propor o que achamos ter gravemente faltado nos últimos OE.

Porque como disse Gandhi, "Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados".

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