A ascensão da extrema-direita em Portugal é um fenómeno que não pode ser ignorado pelos agentes políticos. Com 2024 marcado por eleições que determinarão o governo dos Açores, o governo da República e ainda a representação de Portugal na União Europeia, importa de alguma forma tentar perceber o que tem levado a esta rápida ascensão do Chega no nosso país.
Esta subida do apoio à extremas é um fenómeno complexo e multifacetado, sendo influenciado por uma série de fatores políticos, sociais e económicos. Desde logo, o descontentamento económico pode impulsionar o apoio à extrema-direita. Se as pessoas sentem que suas condições de vida estão piorando, seja devido aos baixos salários ou condições económicas adversas, elas podem ser mais suscetíveis a mensagens populistas e nacionalistas que prometem soluções simplificadas (ou mesmo impossíveis) para complexos desafios económicos. Portugal atravessou um período complicado com a pandemia, a crise económica e o aumento generalizado do custo de vida, que praticamente absorveu o crescimento económico do país. Tudo isto tem criado instabilidade que a campanha do Chega tem aproveitado, com o partido de André Ventura respondendo às crises presentes com promessas sem qualquer rigor financeiro ou mesmo impossíveis de praticar.
Acresce a crescente desconfiança nas instituições políticas estabelecidas, incluindo partidos tradicionais, e fica aberto o espaço para o surgimento de movimentos mais radicais. Se os cidadãos percebem uma falta de transparência, representatividade e capacidade de resposta por parte do governo, podem se voltar para alternativas mais extremas em busca de mudanças. É sintomático do que tem acontecido em Portugal. O desinvestimento nas forças de autoridade, o caos nos estabelecimentos de saúde, as constantes greves nas escolas com alunos sem aulas e a corrupção generalizada e organizada até à mais alta patente do Estado, é terreno fértil para o discurso fácil e populista e, consequentemente, a maior adesão de pessoas a movimentos mais radicais.
Por outro lado, questões relacionadas com a imigração, frequentemente desempenham um papel na ascensão da extrema-direita, sendo muito comum o discurso anti tudo o que vem de fora. O medo da perda de identidade cultural e a exploração de preocupações legítimas sobre o controle das nossas fronteiras e o aumento da insegurança, podem levar ao apoio a partidos ou movimentos políticos que defendem políticas restritivas de imigração. Se grupos sociais se sentem marginalizados ou não integrados, isso pode criar um terreno fértil para ideologias extremistas. A incapacidade de abordar questões relacionadas com a igualdade, diversidade e inclusão social pode contribuir para a polarização política.
Mas, para colar isto tudo, é preciso uma figura carismática e habilidosa, capaz de assumir e desempenhar um papel central como «eco» das insatisfações da população. Personalidades que conseguem mobilizar eleitores, oferecer soluções simplistas e criar um senso de unidade podem atrair apoio significativo. André Ventura assume esse papel como poucos. Inteligente e astuto, tem um discurso simples, direto, capaz de chegar a todos, sendo ele a principal razão para que o Chega seja já a terceira força política do país. Apoiado por aquilo que hoje é o principal problema da comunicação, que é a propagação da desinformação, o seu discurso navega rapidamente pelas redes sociais, moldando a perceção pública e influenciando o apoio ao seu movimento. A polarização online, dos bons contra os maus, cria bolhas ideológicas que reforçam crenças extremas, tornando mais difícil o diálogo construtivo e a compreensão mútua, com o Chega a somar pontos a cada ataque que sofre.
Ora, se isto tudo é verdade, é, porém, necessário pegar o touro pelos cornos e apontar a principal razão para a ascensão do Chega e seus pares. E essa é o Partido Socialista. Nos últimos vinte anos é responsável por 15 anos de governação, sendo quatro deles em conluio com o BE e o PCP. Foi responsável por (mais) uma falência do Estado Português, que obrigou à intervenção da Troika europeia, com as consequências que todos nós conhecemos. O atual estado do país, para o bem e para o mal, é da responsabilidade do PS e dos seus governantes, e são as suas políticas para o país e para as pessoas, são os constantes casos relacionados com corrupção e os escândalos políticos sucessivos, que têm minado a confiança na integridade deste partido e, por arrasto, dos partidos tradicionais do arco de governação, que não têm sido capazes de por o dedo na ferida e apresentar um discurso coerente, racional mas eficaz, que chegue a uma população cansada e ferida.
Toda a ação tem uma reação. É isso que o Chega é. Mas se o PS não é o futuro que precisamos, o Chega também não o é. 2024 vai exigir muito de todos nós. Seremos capazes?