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Artigo de Opinião

Gestor do Europe Direct Madeira

15/08/2024 08:00

Verão+subsídio de férias+IRS (para os que recebem) = “Fui”! Não sei se a fórmula será exatamente assim, mas esta é, por excelência, uma época particularmente ativa em matéria de viagens. O setor turístico está ao rubro e o desejo de viajar vigoroso, em todas as faixas etárias. Mesmo perante adversidades amplamente badaladas, como os baixos vencimentos, a falta de estabilidade profissional, o elevado custo de vida ou as carências de habitação, nada parece travar o desejo de “partir à descoberta”, sobretudo junto das camadas mais jovens (não deixa de ser curioso, este aparente contra-senso).

Os avanços sólidos que se têm proporcionado no projeto europeu, com a livre circulação de pessoas, a moeda única, o fim do roaming, os direitos dos passageiros, etc... vieram reforçar todo um sistema particularmente favorável a este “entra e sai” constante de viajantes, sobretudo ao nível das deslocações internas no espaço europeu.

No primeiro trimestre de 2024, registaram-se 453 milhões de dormidas em alojamentos turísticos em toda a UE, o que representa um aumento de 7 % em comparação com o mesmo trimestre de 2023. Destas, 27% foram passadas em alojamentos de aluguer de curta duração, reservados através de plataformas digitais. Os visitantes estrangeiros representaram cerca de 45% de todas as dormidas, verificando-se diferenças assinaláveis entre Estados-membros, como provam os 91% registados em Malta ou os 70% de Portugal, por comparação com os 19% registados na Polónia.

Independentemente das análises que se podem fazer em torno deste setor de atividade, há que reconhecer que se trata de uma fonte de financiamento expressiva e geradora de inúmeros postos de trabalho, mas que contempla particularidades que não podem ser ignoradas, sobretudo em regiões que dependem fortemente desta atividade. A memória é normalmente curta, mas todos teremos ainda presente os cenários sombrios causados pela pandemia na nossa região, com hotéis fechados, esplanadas vazias e empresas de animação turísticas sem nada para fazer. Não foi um período fácil, não senhor!

Hoje vivemos uma era de ventos favoráveis, mas com novos desafios (de resolução sensível), como o apregoado “excesso” de turistas e os seus impactos na vida dos locais. Na RAM, a turistificação acaba por ser notícia a toda a hora, levando-nos a questionar a qualidade do serviço que aqui prestamos aos visitantes, porventura distinto daquilo que se promove (expectativa vs realidade). E se por cá, começamos a dar os primeiros passos em matéria de adaptação à nova realidade (ainda que em muitos casos se fale em excessos, sem que se consigam apresentar dados concretos), noutras paragens (Barcelona será o caso mais mediático), fenómenos de “turismofobia” ganham expressão preocupante, com ações discutíveis contra a presença dos turistas e contra atividades que condicionam a qualidade de vida dos residentes nativos, como o AL ou a proliferação das rent-a-car. Diabolizar o turismo e os turistas é um exercício pouco inteligente e, grande parte das vezes, desprovido de base técnica para o fazer, mas assobiar para o lado fazendo de conta que está tudo bem também não será, de todo, a solução mais credível.

À margem destes desafios, não podemos ignorar uma outra questão crucial: a análise do impacto das alterações climáticas sobre o sector. Os dados apontam para que 2024 se torne o ano mais quente registado na história. Segundo a European Travel Commission, o número de turistas que se dirigem ao sul da Europa diminuiu 10%, desde 2022, devido a ajustamentos dos planos de viagem em função das alterações climáticas, sobretudos nas faixas etárias menos jovens. Numa Europa de contrastes, mas de uma enorme riqueza cultural e paisagística, o turismo terá sempre o seu lugar, mas compete aos Estado-membros e às suas regiões promover um trabalho de adaptação de forma inteligente, cooperativa e preventiva, reconhecendo-se que não há soluções perfeitas, muito menos as importadas tipo copy-paste.

Boas férias.

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