MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Advogada

18/01/2024 08:00

Hoje acordei pelas seis da manhã, o sol ainda não tinha raiado, de roupão, fofinho e pantufas, quentinhas, meti-me na cozinha a tomar um café com leite, ou melhor, leite com café e uma torrada bem forradinha de manteiga a apreciar a chuva calma que caía lá fora.

Pus roupa a secar, outra a lavar e fui ver o sol nascer por detrás das Desertas. Respirei fundo dando graças por estar viva e com os cinco sentidos operacionais.

Tomei um banho, depositei as mil e quinhentas camadas de séruns, essências, tónicos, cremes, protetor solar na pele e fui escolher a roupa do dia: vestido, saltos altos, chapéu, último toque, batom vermelho.

Fui acordar o meu filho que dormia aconchegado com respiração profunda, com uma caneca de leite morno com chocolate em pó e, após estar pronto, levei-o à escola em dez minutos visto que o trânsito fluía como água na levada, até os semáforos estavam de feição.

Chegada de novo a casa, já o meu almoço seguia pronto na marmita para levar ao trabalho, preparado com carinho pelo meu marido que também estava prestes a seguir para a sua profissão escolhida.

Despedimo-nos e seguimos cada um para o seu mister.

Lá fora a Rússia retirou-se da Ucrânia. Israel e Autoridade Palestiniana entraram em acordo de Paz, levando por arrasto todo o médio Oriente. Coreia do Norte e Coreia do Sul reunificaram-se.

Nos hospitais os utentes não aguardavam mais que meia hora por atendimento, nos tribunais os acordos eram a regra, na estrada quase não havia acidentes e se os havia, sem grandes consequências pessoais.

Não se viam animais abandonados, apenas animais fugidos de casa de sorriso no focinho, porque sabiam como e para onde voltar.

Na política, apenas gente dedicada à causa pública, sem interesses pessoais e nepotistas, sem órgãos preenchidos de maridos e mulheres, de filhos e primos, amigos e conhecidos. Sem corrupção, sem escândalos.

Nas famílias, pais de acordo na educação dos seus filhos, sem pressões, ameaças, manipulações.

No ambiente, as energias renováveis dominavam as fontes e as alterações climáticas revertiam-se colocando, de novo, cada estação no seu trimestre.

Os amigos não se traíam uns aos outros, não se invejavam e os que não o eram, simplesmente seguiam o seu caminho sem comentários bacocos, maldosos e mal escritos em redes sociais, que praticamente só serviam, agora, para educar e reaproximar pessoas.

Todos os seres Humanos de sorriso implícito e amor no coração, todas as crianças a gritar de felicidade e riso, aqui, na Ucrânia, na Palestina, nos mais variados países africanos e americanos, estes, os do norte, deixavam a célebre ignorância de lado, não elegendo gente como Trump.

Que dia perfeito! Que felicidade.

Foi então que acordei...9:10 porque me esqueci do despertador, com julgamento as 9:30 na Ponta do Sol, o miúdo arrancado da cama porque há explicação às 10, o marido às pressas, depois engarrafado no trânsito já desde a Ribeira Seca, uma esfregadela de protetor solar na cara, a primeira roupa que apareceu, acelerar pela via rápida, ver um carro capotado lateralmente, sair dos túneis, ligar a rádio e ouvir os relatos: a guerra na Ucrânia, o massacre Israel/Hamas, as meninas raptadas em África, a violência no Equador, Trump à frente nas intenções de voto, Coreia do Norte a testar mísseis no mar do Japão, pessoas a morrer nos corredores dos hospitais, famílias a se matar por um balde de terra.

Tudo não passara de um sonho, o sonho dum mundo perfeito, que só nos resta esperar, como se de uma utopia não se tratasse.

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