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Artigo de Opinião

Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira

8/07/2021 08:01

Quem acompanha de perto a realidade dos migrantes e dos refugiados assiste a cenários cruéis. Pessoas que perdem a vida durante as viagens, famílias desesperadas, crianças desaparecidas, pessoas expostas a grupos de traficantes, pessoas espancadas pelas autoridades, entre outras situações. Parte dos refugiados e dos migrantes acolhidos (sobre)vivem em centros sobrelotados, sem condições humanas, sem água, eletricidade ou serviços básicos de higiene. Há crianças com menos de dez anos que se tentam suicidar por não aguentarem a violência e as condições atrozes vividas nestes campos. Há relatos de violações e assédio sexual. Algumas mulheres afirmam que dormem com fralda por terem medo de caminhar à noite, no escuro, mais de vinte minutos até à casa de banho, correndo o risco de serem molestadas sexualmente.

Passamos por uma grande tragédia humana! Num ato de desespero, as pessoas tentam fugir da crueldade vivida nos seus países de origem, sujeitam-se a viagens lancinantes para depois serem recebidas em campos com condições absolutamente desumanas.

Nos últimos três anos nasceram cerca de um milhão de crianças nos campos de refugiados. As crianças representam metade do número de refugiados do mundo. Em que condições vivem estas crianças? Que oportunidades têm para se desenvolverem enquanto seres humanos dignos? Têm acesso a cuidados de saúde e de higiene básicos? A maioria das crianças refugiadas com idade escolar não frequentam a escola. A educação, para além de um direito da criança, é um processo que visa o seu desenvolvimento intelectual, físico e moral, é uma ferramenta de salvação para que possa recomeçar a sua vida, para que se torne uma pessoa instruída, informada e capaz de fazer a diferença no seu mundo e no dos outros. Não podemos deixar nenhuma criança refugiada ou migrante para trás. Não podemos falhar enquanto humanidade!

Muitas relatos e imagens arrepiantes chegam até nós. Recordamo-nos perfeitamente a imagem do pequeno Aylan Kurdi estendido na areia, morto, depois de ter fugido da Síria e do barco onde viajava ter naufragado; da imagem de um jovem marroquino que usou garrafas de plástico vazias para nadar até Ceuta e que afirmou que preferia morrer a ter de voltar para Marrocos; ou, da fotografia do abraço entre Luna, a voluntária da Cruz Vermelha, e o migrante senegalês.

Celebramos no mês passado o Dia Mundial do Refugiado. Esta data serve para lembrar todos aqueles que, diariamente, vivem autênticos cenários de terror; para pressionar os líderes mundiais que são incapazes de governar os seus países; para consciencializarmo-nos que é preciso fazer mais para prevenir qualquer tipo de conflito, para combater qualquer atrocidade contra a humanidade, para sermos mais inclusivos e empáticos.

Admiro a coragem, a força, a resiliência e a determinação de cada pessoa que deixa tudo o que sobrou para trás e que arrisca a sua vida, por vezes apenas com a roupa do corpo, acreditando que do outro lado da fronteira, do outro lado do horizonte estará a sua oportunidade de começar de novo, de reaver a sua dignidade e os seus direitos…

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