Também é verdade que estamos todos cansados e que embora todos diferentes, tendo cada um as suas características (de proteção e de vulnerabilidade), a verdade é que somos todos humanos. Cansados de uma guerra aberta na qual não podemos "baixar armas", numa luta persistente, com um inimigo invisível e imprevisível.
Centramo-nos no presente, o que é bem necessário, mas como iremos ficar depois disto tudo isto? Como ficarão os soldados da linha da frente, em que a maioria já quase esgotou os seus recursos? Passamos pelas várias vagas da pandemia, mas o "depois" ainda está para vir. Temos de fazer agora, o que depois poderá ser tarde demais.
É no pós guerra, quando baixamos armas, que nos permitimos sentir a dor das feridas causadas no campo de batalha. Tal como este vírus, a nossa Saúde Mental que também não se vê nem se toca, pode causar-nos grande dano. Com a nossa resiliência esticada quase até ao limite, precisamos viver um dia de cada vez e confiar que tudo isto terá um fim. Que tal como há mais de 100 anos a pandemia terminou, esta de agora, também irá terminar.
É importante que cada um de nós consiga parar e pensar, levando um dia de cada vez, priorizando o que de facto tem mais importância nas nossas vidas, retirando o peso "a mais" que muitas vezes é dado a tantas coisas. Continuar a cumprir com as medidas recomendadas, confiando no que nos é pedido pelas autoridades de saúde, será sempre a nossa melhor contribuição. Sentir-se cansado, angustiado, triste, com medo ou frustrado são sentimentos que nos poderão acompanhar nesta fase, por isso, é importante ventilá-los e partilhá-los com quem for da nossa confiança. Procurar a nossa rede de suporte (família, amigos ou colegas de trabalho) ainda que pelas vias alternativas que (felizmente) temos ao nosso dispor - novas tecnologias, será sempre uma boa solução. Estar informado (q.b.) é importante, mas o suficiente, sem recorrer demasiado à informação, o que poderá tornar-se negativo e promotor de mais ansiedade. No fundo, temos de aceitar a realidade sem nos resignarmos ou "deixarmos ficar" e tentar fazer o possível, para mantermo-nos mais auto-regulados, motivados e equilibrados emocionalmente.
Não existem pessoas perfeitas, nem sistemas perfeitos, mas se no presente fizermos o melhor, com o que temos, num futuro próximo as feridas serão mais fáceis de sarar. A Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca Portugal no topo da Europa em relação à prevalência de perturbações mentais, sendo a "depressão" uma das principais causas de incapacidade e diminuição significativa da produtividade no nosso país, com grande impacto em toda a economia.
Atualmente, realidade pandémica constitui-se como um catalisador de todas as vulnerabilidades prévias, intensificando-as. Se precisar de ajuda não hesite em falar com alguém ou procurar um profissional de saúde. Lembre-se, somos todos humanos e seguimos todos na mesma viagem.
Helena Leal escreve
à terça-feira, de 4 em 4 semanas