Nas últimas semanas muito se tem escrito sobre a nova série Adolescência e o crime de Loures. Para alguns o foco é a masculinidade tóxica do conceito “incel”, para os outros o perigo da propagação epidémica destes comportamentos. No meu caso preocupa-me o caminho social que estes ideais e comportamentos representam.
Muitas pessoas gostam de criticar o passado repressor, de como isso as limitou e impediu o desenvolvimento ideal das suas emoções. Mas o que a educação do passado tinha de positivo é que forçava a internalização e limitava a expressão emocional. “Não chores”, “aguenta”, ... tantas formas de nos fazer/forçar a tolerar o sofrimento. Algumas obviamente causavam mais tortura do que vantagens, no caso das pessoas não se poderem separar de companheiros(as) abusivos(as).
Mas era um estilo de formação pessoal que nos colocava a responsabilidade em nós. Por exemplo, quando era adolescente e jovem adulto, não cabia na cabeça de nenhum homem culpar as mulheres por não ser um garanhão.
A culpa era nossa, a insuficiência era nossa, das nossas capacidades pessoais/sociais. Esta ideia não significa que o caminho seja a repressão das emoções, mas também não é o que temos atualmente que toda a gente pode ser o que quiser e atingir os seus sonhos.
É profundamente perturbador assistir a uma mudança social tão grande que os homens que não conseguem ter relações sexuais são vítimas frágeis das mulheres, que precisam de se juntar e cultivar um ambiente destruidor de qualquer dignidade humana.
Mantemos os mitos culturais que os homens não conseguem entender as mulheres, mas atualmente a culpa não é dos homens não serem capazes, mas das mulheres que são destruidoras da masculinidade e assim, dignas do seu ódio e dos seus crimes. É esta atitude emocional que me preocupa e que na verdade é a melhor explicação para as mudanças sociais que culminaram no crescimento da extrema-direita.
A culpa é dos outros, das mulheres que trabalham, dos emigrantes que roubam casas e trabalhos, dos corruptos que governam, de tanta gente, mas nunca do próprio. É por motivos desta alteração de mentalidade, que iremos passar por muitos problemas nas próximas décadas (pelo menos). Temos tantos problemas para resolver no mundo e culpar os outros não vai resolver nenhum deles... Precisamos de nos aproximar uns dos outros, trabalhar em conjunto e não separados. Precisamos de deixar de culpar os outros e compreender a nossa responsabilidade nos problemas.
É necessário urgentemente reformular como estamos a educar as novas gerações. Atualmente estão cada vez com mais ajudas, mas os resultados são piores. As notícias dos últimos anos mostram que a nova geração está menos inteligente que as anteriores, quebrando um ciclo de várias décadas de aumento progressivo das capacidades intelectuais.
O problema não é apenas intelectual, mas sobretudo emocional e comportamental. Precisamos de responsabilização e consequências. Um jovem não pode descuidar-se nos estudos e passar, mesmo por motivos de doença.
Não podemos apoiar sem responsabilizar, porque ao fazermos isso, destruímos a capacidade da pessoa se responsabilizar em eventos futuros. Dar apoios na forma de empréstimos, criar a noção que devemos dar para receber e se recebemos sem dar, precisamos de compensar no futuro. A noção de receber “a fundo perdido” destrói a resiliência e o empreendedorismo.
A violência a que assistimos atualmente é um reflexo da incapacidade emocional individual que esta sociedade moderna alimenta.