Os mandatos têm quatro anos mas o desenvolvimento tem apenas um, o resto é paisagem. Claro que nem todas as autarquias são como descrevi, nem o apoio às questões sociais justifica tudo, mesmo em tempos de pandemia. Há dias dizia-se que faltam quatro mil pessoas para suprir a carência de mão-de-obra na construção civil, face àquele que é o volume de obras em curso e que teremos de recorrer a trabalhadores de fora. Por outro lado, temos uma taxa de desemprego a rondar os 10%, uma das mais altas do país, aliás, em linha com o que já vinha acontecendo mesmo antes da pandemia. Há qualquer coisa que não bate certo!
Não se pode alegar que toda essa gente desempregada passe diretamente para a construção civil, temos de respeitar as suas origens profissionais, mas o paradoxo existe e isso é insofismável. Entre os mais de vinte mil desempregados, alguns poderiam estar no mercado de trabalho em vez de fazerem do desemprego uma profissão.
Reitero que não são todos mas que devíamos tomar como bom o exemplo dos países nórdicos, mais desenvolvidos que o nosso, em que os cidadãos permanecem desempregados o menor tempo possível, precisamente por não quererem ser um fardo para a sociedade e aí talvez se percebesse a diferença entre eles e nós, que é cada vez mais acentuada.
Claro que os últimos tempos não têm sido fáceis, nem para as famílias, nem para os empresários e temos vindo a assistir ao inevitável e necessário apoio social aos mais desprotegidos, repartido entre Autarquias e Governo e IPSS, em que as primeiras têm tido um papel preponderante, mormente as que governam sob a bandeira do Partido Socialista.
A questão que se coloca é até quando é que Estado, Regiões Autónomas e Autarquias aguentam? A resposta parece óbvia: não por muito tempo. De facto há uma grande maioria que precisa de ajuda e que sem qualquer tipo de dúvida não pode ser deixada para trás e uns quantos outros, muitos, que são os profissionais do subsídio dependência, que muitas das vezes ludibriam as várias entidades que os apoiam o que consubstancia uma afronta a quem trabalha e desconta uma parcela considerável dos seus próprios rendimentos para que esses apoios sociais sejam uma realidade. Não é admissível que muitos beneficiem de apoios de 2, 3 ou 4 entidades e outros não tenham nada.
É fácil aos gestores políticos distribuir o dinheiro do contribuinte mas isso não dará bom resultado a médio prazo. Em boa verdade também não basta criticar a visão e o conformismo de alguns dos subsidiados, esquecendo a responsabilidade de quem entende que as pessoas "amarradas pela boca" são a solução para ganhar eleições. São duas, desgraçadas, realidades, que merecem uma profunda reflexão.
Um país que se quer livre, socialmente coeso, inclusivo, igualitário precisa de reformas profundas que vão para além do politicamente correto e do eleitoralmente necessário.
Entretanto vem aí o verão para arejar as ideias e aprofundar clivagens políticas tendo como pano de fundo as eleições e veremos quem tem unhas para tocar viola.
Por agora disfrutemos do europeu de futebol, esqueçamos o fado regional e os pensamentos mesquinhos.
Força Portugal.