Diversos autores cristãos têm escrito sobre a Sociedade do Cansaço, A Fadiga de ser a Si Mesmo, Depressão e Cansaço, Burnout próprio dos Cristãos, Burnout uma doença das doações, Arder não Queimar-se entre o Clero Diocesano, Orientações Pedagógicas etc.
A nossa sociedade é caraterizada por um cansamento crescente indivíduos, parece empenhada por uma correria louca, correndo para a frente sem repouso nem silêncio contemplativo, para acolher na sua vida pública, após uma vida tranquila, observando o (Shabbat) o sábado, sem trabalho físico, como acontece ainda hoje com o povo
judeu. Nas diversas peregrinações que realizei à Terra Santa, sempre admirei a alegria do povo judeu que se reunia nos hotéis, com toda a família, tendo os homens um lugar próprio, enquanto as esposas com os filhos já se alimentavam com muitos círios acesos, cantando com muita alegria. As senhoras guias e mesmo os homens, já nos avisavam que ao começar o shabbat, o diretor espiritual, ou seja, a mim próprio, quando estávamos a visitar um santuário afastado das suas casas.
Tudo era muito diferente dos nossos domingos, cheios de festas ruidosas, rebentar de foguetes, quando não temos incêndios. Por vezes nas Missas do Parto alguns chegam apenas após a eucaristia para alegria fraterna com cânticos natalícios.
São Paulo escreveu aos cristãos de Corinto “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Cor. 11,1). Jesus até ao batismo de João teve uma vida calma e serena,
na pequena e pacata Nazaré, longe dos costumes e festas de Jerusalém.
Após este período, a Sua vida missionária foi tão cansativa que nem tinha tempo para comer (Luc.6,31). Contudo, Jesus diz aos discípulos quando chegam do trabalho missionário: “Vinde à parte, vós sozinhos, para um lugar deserto e repousai um pouco”
(Mar.6,3). Por vezes, Jesus, recolhia-se sozinho, fora das multidões, para encontrar-se com o Pai celeste. Indicativo do cansaço de Jesus, quando deixava as multidões, subiu ao barco com os discípulos, e começou a dormir com o cansaço missionário do dia. Poucos anos viveu Jesus, não se pode O imitar em todos os seus atos.
Jesus tinha uma natureza humana e divina. É verdade que, muitos santos o imitaram, mas muitos outros foram e são contemplativos. Santa Teresa do Menino Jesus queria ser missionária do Senhor, em todo o mundo, mas permaneceu na sua vida ordinária e humilde, dentro do seu mosteiro de Lisieux. Mais importante é seguir o exemplo e atitude dos que ajudam os pobres, os doentes, os prisioneiros com ternura, e simpatia. Na realidade, o que conta não é a grandeza dos atos, mas o amor. São Paulo na segunda carta aos Coríntios escreve: “No meio de vós, dei sinais de verdadeiro apóstolo, com uma verdadeira paciência a toda a prova. (2 Cor. 12,12), São Lucas escreve: “Com a vossa perseverança salvareis a vossa vida” (Luc.12,19).
Em relação aos sacerdotes, Bispos, religiosos e religiosas, têm objetivos elevados, conformes ao ideal de Jesus Cristo, e estão sujeitos ao superamente dos próprios limites, com o dom de si mesmos, e, por vezes, com a ideia de serem salvadores, mas é Jesus quem salva, não somos nós. O que conta é o amor que colocamos nas pequenas coisas que fazemos. Nenhum de nós pode viver sem repouso e sem silêncio, sem amigos, sem férias ou tempo livre, como fazia Jesus com os seus discípulos, dando e recebendo. Os nossos tempos são muito duros para algumas dioceses muito populosas e para com os sacerdotes que estão assoberbados com trabalhos e esgotados.
A diocese do Funchal ainda tem sacerdotes relativamente saudáveis e alguns muito novos e até para ordenar, mas muito deficiente com seminaristas. Tempo houve em tínhamos um sacerdote a estudar em Roma e outro em Paris. Mas, oh tempora oh mores...
Li algures que a ratio entre padres e povo em Portugal, com 100 mil Padres para três milhões de pessoas, hoje, não atinge 4.000 sacerdotes para 10 milhões. É muita pressão sobre uma pessoa, quando é responsável e também adoece, envelhece e enfraquece.
Que acontece se o bispo pede a um destes padres mais um encargo se ele tem o dom da generosidade e espírito de serviço? Vai exigir que ele deve seguir o exemplo de Cristo e de muitos outros santos? E se ele adoece com as modalidades próprias do burnout sacerdotal, o que pode acontecer também ao voluntariado das associações laicais?
Eu próprio, como o Padre Maurílio e o Padre Conceição, no início da nossa vida apostólica tivemos essa tentação, a irmã do pároco de Santo António, foi dizer ao Bispo diocesano muito doente, a minha situação e fui enviado com Padre Maurílio a irmos estudar para Roma.
Na verdade, é próprio de um ativismo religioso o esgotar-se em novos.
O Papa Francisco disse aos jesuítas a “consolar o povo fiel com discernimento para que o inimigo da raça humana não nos tire a alegria e a pedir com insistência, a consolação de Deus, não se trará de não ser generoso, mas de saber conduzir a vida com inteligência, para servir o Senhor com uma longa vida. É necessário introduzir o Shabbat em nossas vidas”.
Nos ´Salmos encontramos belíssimas lições: “Senhor, não vou procurando coisas mais altas, nem maravilhas de mim. Eu, porém, continuo calmo e sereno” (Sal. 131, 1-2).
Diziam os antigos romanos: Caveant Consules.