Acreditar e esperar um futuro melhor é um desejo perfeitamente normal. Contudo, por vezes, podemos deixarmo-nos levar por pensamentos mágicos, em que acreditamos que os nossos pensamentos, crenças, palavras ou ações podem alterar acontecimentos na realidade externa ou mundo físico.
Nas áreas da psicologia e da antropologia, o pensamento mágico é um raciocínio que atribui correlações entre ações e eventos, sem nenhuma prova empírica. Nesta categoria também se incluem os pensamentos religiosos e supersticiosos. São alguns exemplos: as crenças religiosas (ideia de intervenção divina no universo e na vida humana); a "dança da chuva" (um ritual executado pelos povos indígenas com a finalidade de propiciar chuvas); o uso de amuletos e rituais (para atrair a sorte); e a atribuição de um significado especial às coincidências e sincronias estranhas ou a uma relação entre coisas sem relação aparente.
Historicamente, o pensamento mágico desenvolveu-se a partir do momento em que o Homem adquiriu capacidade de abstração e criatividade. Os nossos antepassados, desde cedo, começaram a tentar arranjar explicações para os fenómenos da natureza (tais como trovoadas, tempestades, sismos) e essas explicações eram de natureza mágica.
Hoje em dia, é normal as crianças entre os 2 e os 7 anos apresentarem pensamento mágico, acreditando em personagens (fada dos dentes, Pai Natal, fantasmas), o que em alguns casos facilita a adaptação ao ambiente externo e também estimula o desenvolvimento da imaginação e da criatividade. Pessoas perfeitamente saudáveis, sem psicopatologia, usam este tipo de pensamento, porque dá sentido ao que não pode ser compreendido e permite-lhes viver com maior serenidade. Em boa verdade, há situações em que o pensamento mágico até é útil: acreditar no efeito de um medicamento (efeito placebo) e sentir melhorias; usar amuletos para aumentar a sensação de controle numa situação difícil, com redução da ansiedade. Claro, que em excesso, o pensamento mágico pode causar disfuncionalidade.
Segundo as neurociências, os pensamentos lógico e mágico são processados pelas mesmas estruturas cerebrais e da mesma forma. Uma possível explicação para esta semelhança esclarece que ambos os pensamentos respondem à mesma necessidade: formar modelos acerca do mundo que nos rodeia. E os dois modelos podem coexistir, de forma pacífica, na mesma pessoa (por exemplo: ser cientista e religioso).
Em conclusão: é normal querer dar um sentido à nossa existência, acreditando na magia da vida, e que "tudo acontece por uma razão"!