É à espreita que se mantém o perigo de queda entre a população idosa madeirense, problema que o projeto ‘Consigo+Saúde’, hoje em destaque no VIII Simpósio anual da Escola Superior de Saúde da Universidade da Madeira (UMa), tem procurado contornar.
Isso mesmo explanou ao JM, Ricardo Silva, coordenador da Comissão de Gestão de Risco Global e membro da Comissão de Avaliação para a implementação de Recomendações de Quedas em Idosos na RAM, que mais esclareceu que, ao longo dos seus quatro anos de formação, os alunos do curso de Enfermagem testaram o modelo de processo assistencial para prevenção de quedas na população idosa, “único e inédito do país”, criado pelo órgão que encabeça.
“Chegámos à conclusão de que existe um alto risco de queda [na Região]. Então propomos ao idoso uma visita para verificar no seu domicílio quais são os perigos que existem”, avançou o enfermeiro, explanando que é aqui que entra em ação o ‘Consigo+Saúde’, projeto comunitário de enfermagem desenvolvido pelos jovens enfermeiros entre 2020 e 2024, com o propósito de sensibilizar para a prevenção de quedas da população mais velha.
“O que está previsto é que toda a população acima dos 65 anos faça uma avaliação anual no centro de saúde através de uma equipa multiprofissional”, recordou o responsável, que não deixou de enaltecer que, sendo o envelhecimento uma realidade cada vez mais premente, é uma matéria que merece uma atenção especial, estando já a ser desenvolvido um trabalhado colaborativo com a Direção Regional de Saúde, a Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil e, em particular com a Direção Regional para as Políticas Públicas Integradas e Longevidade.
Perigos espreita em casa
No que às conclusões deste projeto diz respeito, os tapetes soltos, a falta de varões e as banheiras estão entre os mais perigos identificados. “Também, por exemplo, um vaso a meio do caminho, uns cabos a passar, a ausência de barras de apoio, por exemplo, em zonas como a casa de Banco, que tem o pavimento molhado”, aditou ainda João Pedro Pinto, estudante do curso de Enfermagem da UMa, que integrou este projeto e que mais destacou que, após a identificação destes riscos, o passo seguinte é fazer a sensibilização do próprio idoso e dos seus cuidadores, adaptar comportamentos e definir estratégias para garantir a segurança do seu espaço.
“Através de jogos dinâmicos, que foram uma das estratégias que utilizámos, foi possível ajudar a perceber como adequar o ambiente, por exemplo, afastando um vaso, tentando arrumar a mangueira num canto, em vez de ficar assim sempre ligada e a passar a meio do terreno, ou arranjar uma forma de fixar os tapetes ao chão e a população mostrou-se bastante recetiva a estes ensinos”, atestou.
Ainda assim, o universitário acredita ser importante que estes projetos comunitários de prevenção cheguem a mais idosos e às respetivas famílias, defendendo ainda um maior investimento nesta faixa etária do ponto de vista da intervenção comunitária, mas também a nível familiar e pessoal.
Um longo caminho a percorrer
Por seu turno, presente na sessão de abertura do VIII Simpósio anual da Escola Superior de Saúde, Pedro Ramos, secretário regional de Saúde e Proteção Civil, reiterou que a Madeira está a cumprir com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, nomeadamente com o seu Plano de Prevenção das Quedas na RAM, realçando que este esforço em garantir a segurança dos mais velhos é uma mensagem não só para a população, mas também para os visitantes da Região.
“Todas as estratégias que estão a ser desenvolvidas vão rapidamente permitir que a Madeira atinja os níveis de qualidade de prestação de cuidados para aqueles que têm mais de 65 anos”, aditou, admitindo, contudo, que a RAM “tem ainda um longo caminho a percorrer”, uma vez que está “um pouco distante” da eficiência das medidas de segurança e qualidade assistencial dos países nórdicos.
A este propósito, mais sublinhou que a longevidade não pode ser encarada como um problema, mas antes como o sucesso da saúde, devendo o foco ser o de conceder mais esperança a essa longevidade, entrando “no futuro e nas novas tecnologias”.
Já Gregório Freitas, presidente da ESS-UMa, vincou que “é fundamental que a saúde seja promovida e protegida competentemente”, enaltecendo que cabe a cada um tomar as devidas precauções, tendo, no entanto, os profissionais de saúde um reforçado sentido de cidadania da saúde, nomeadamente na definição de estratégias para promover o bem-estar e a qualidade de vida da população.
É com esta missão em mente que o responsável asseverou que a Escola de Saúde aposta na formação dos seus estudantes, enquanto “futuros educadores para a saúde”.
De assinalar que o VIII Simpósio anual da Escola Superior de Saúde da Universidade da Madeira é uma iniciativa organizada no âmbito do Curso de Licenciatura em Enfermagem da UMa (CLE), é desenvolvida em cooperação com o SESARAM, com o objetivo de “promover dinâmicas de desenvolvimento e partilha de conhecimento e reflexão sobre determinantes para a prevenção de quedas no idoso que fundamentem a implementação de intervenções comunitárias orientadas para o fortalecimento de uma cultura de segurança, ganhos em saúde e melhoria da qualidade de vida dos idosos e da importância do contexto comunitário enquanto meio promotor e protetor da saúde”.