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Incêndios: João Baptista diz que Madeira precisa de um plano estratégico e aponta falhas

Data de publicação
06 Novembro 2024
18:07

O engenheiro geólogo João Baptista garantiu, hoje, no Parlamento madeirense, que “todos nós temos falhado na prevenção dos incêndios” e desafiou o Governo Regional, as autarquias e os cidadãos a ter uma atitude mais proactiva, recomendando mesmo “um plano estratégico para 20 anos, de modo a salvaguardar a coisa mais preciosa que temos, que é a vida da nossa espécie e a das outras espécies”.

O professor e investigador da Universidade de Aveiro foi ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o «Apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios ocorridos entre o dia 14 e 26 de agosto», onde alertou para o aumento da vulnerabilidade do território. De acordo com as estimativas, entre 2010 e 2024 a Madeira registou 9 grandes incêndios, onde a área ardida e ‘reardida’ se situa entre os 38.000 e os 41.000 hectares. “Estes 9 grandes incêndios tiveram mais impacto que os 604 anos de presença humana na ilha”, disse, salientando que a área ardida tem uma dimensão aproximada a 40 mil campos de futebol, para que seja melhor entendida a gravidade do problema.

O investigador defende um plano a longo prazo, porque estamos perante um “inferno da ação da água e do fogo permanentemente sobre o nosso território”. Nesse sentido, João Batista avança com algumas medidas para “antecipar os incêndios”.

Em primeiro lugar, entende o especialista em solos que é preciso “apostar na prevenção, na limpeza dos terrenos e na reflorestação”. João Baptista recomenda uma “vigilância permanente do território” sempre que as “condições climatéricas sejam favoráveis aos incêndios (temperatura, humidade e vento)” e atenção redobrada à ação dos pirómanos.

Considera essencial “proibir a utilização e queima de artigos pirotécnicos em condições climatéricas adversas e que potenciem a propagação dos incêndios.”

A par destas medidas o professor universitário apela a uma maior aposta na “educação para a cidadania, com formação nas escolas, nas casas do povo, nas juntas de freguesia, nas universidades sénior, nas paróquias, e em outras coletividades e instituições”. Neste capítulo João Batista apontou como bons exemplos os trabalhos que estão a ser desenvolvidos pelos Amigos do Parque Ecológico do Funchal e no Campo de educação Ambiental do Santo da Serra – Eva e Américo Durão, destacando a importância de Raimundo Quintal, investigador, biólogo e impulsionador destes projetos, no campo desta cidadania ecológica ativa.

Por outro lado, sugeriu aos deputados a “formação de sapadores florestais”, de modo a que se tenha na Região “conhecimentos técnicos para atuar rapidamente no início dos incêndios florestais”.

O engenheiro geólogo alertou, ainda, para a quantidade de biomassa, sobretudo troncos, que está espalhada pelas zonas atingidas pelos incêndios e que pode potenciar os efeitos de aluvião. “É um problema que se verifica nos quatro concelhos atingidos pelos incêndios de agosto (Ribeira Brava, Câmara de Lobos, Calheta e Funchal), para o qual recomenda uma ação de limpeza.

Considera também “importantíssimo a recuperação da paisagem agrícola, de modo a potenciar a economia familiar, diminuir a importação de produtos do estrangeiro, reduzir a pegada de carbono e aumentar a autossuficiência da Madeira em termos agrícolas”.

Nesta audição, João Baptista defendeu a “criação e extensão de faixas corta-fogo a outros concelhos da Madeira”.

Disse ser urgente alterar o tipo de “espécies a serem plantadas no coberto vegetal, entre os 300 e os 800 metros de altitude”.

Por outro lado, pediu “rigor na comunicação feita à população”, durante as catástrofes. “Dizer que estava tudo controlado, quando não estava é um erro grave”.

“Este desafio que é colocado a todos nós é um trabalho titânico, enquanto cidadãos insulares. Se nós não cuidarmos do nosso território estamos a por em causa a nossa segurança e a das gerações vindouras”, concluiu com um alerta para o aumento do risco de aluviões na Madeira, em caso de pluviosidade intensa.

A terminar o investigado disse ser importante fazer uma “avaliação e contabilização dos prejuízos provocados pelos vários incêndios que assolaram a Madeira ao longo dos anos”, de modo a ajustar melhor as estratégias de intervenção do território.

Na próxima segunda-feira, às 10 horas, será ouvido, por videoconferência, o secretário-geral do Sindicato Nacional da Proteção Civil, José Costa Velho.

Nesta reunião da comissão de inquérito foram aprovados dois requerimentos da Iniciativa Liberal a solicitar o Relatório ao Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, e a pedir uma audição Parlamentar do responsável na Madeira pela Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR.

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